MANAUS – A Polícia Federal (PF), que deflagrou a segunda fase da operação Sangria em Manaus nesta quinta-feira (8), informou que a investigação detectou a participação de um “sócio oculto” ligado a uma das empresas investigadas, que, com o lucro obtido no suposto esquema, investiu na aquisição dos testes rápidos para Covid-19, “com a finalidade de revender ao Estado do Amazonas e aumentar o proveito da vantagem obtida de maneira ilícita”.
Segundo a federal, “há indícios de que a aquisição destes respiradores pulmonares seria apenas o início de outros esquemas de compra de equipamentos que seriam realizados durante a pandemia, na medida em que, na primeira fase ostensiva (da investigação), “foram apreendidas consideráveis propostas de preços de respiradores pulmonares de diferentes empresas na posse de apenas um empresário, sem razões aparentes”.
A 2ª fase da operação
A segunda fase da operação foi deflagrada nesta manhã, com apoio do Ministério Público Federal (MPF) e da Controladoria-Geral da União (CGU).
A ação visa a cumprir 14 mandados judiciais expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), dos quais nove são de busca e apreensão e cinco de prisão temporária, todos na capital amazonense.
A investigação
A PF informou que,na primeira fase da operação, verificou-se que uma empresa comercializadora de vinhos, utilizando-se de empréstimo de dinheiro, adquiriu de uma empresa local os respiradores pulmonares.
“Em seguida, revendeu-os ao Estado do Amazonas com preço superfaturado. Já o dinheiro recebido pelo Governo do Amazonas foi remetido ao exterior, para uma empresa aparentemente de fachada. A partir dos elementos de prova angariados após o cumprimento dos mandados judiciais na primeira fase, identificou-se que mais funcionários do alto escalão da Secretaria de Saúde do Amazonas também participaram do processo de contratação fraudulenta para favorecer grupo de empresários locais, sob orientação da cúpula do Governo do Estado”, destacou, em nota.
Os indiciados poderão responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de fraude à licitação, peculato, pertencimento a organização criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenados, poderão cumprir pena de até 30 anos de prisão.
O nome da operação é uma alusão às suspeitas de que uma revendedora de vinhos teria sido utilizada para desviar recursos públicos que deveriam ser destinados ao sistema de saúde.
Alvos da 2ª fase
De acordo com informações do MPF, o vice-governador, Carlos Almeida Filho, está entre os alvos de buscas.
Contra outro investigado, apontado como homem de confiança do governador Wilson Lima (PSC), foram expedidos mandados de busca e apreensão, mas também de prisão temporária por cinco dias.
De acordo com as investigações, esse homem teria sido destacado pessoalmente pelo governador para intermediar as aquisições fraudulentas de respiradores e financiá-las, tendo sido responsável por indicar a loja de vinhos que vendeu os aparelhos ao Estado.
O vice-governador, conforme as investigações, “tinha grande influência na gestão da Secretaria de Saúde” – pasta na qual atuou durante os três primeiros meses de governo.
Já em relação ao governador, segundo texto divulgado pelo MPF, provas reunidas na primeira fase da Sangria mostram que ele “exercia domínio completo não apenas dos atos relativos à aquisição de respiradores para enfrentamento da pandemia, mas também das demais ações governamentais relacionadas à questão, no bojo das quais atos ilícitos teriam sido praticados”.
Os nomes dos investigados que não têm foro por prerrogativa de função estão mantidos sob sigilo, a pedido do STJ, assim como os autos da segunda fase da operação.
O outro lado
Em nota, o Governo do Amazonas ressaltou que está contribuindo com a apuração dos fatos pela Polícia Federal e órgãos de controle e que a ação de busca e apreensão, desencadeada nesta quinta-feira (8), envolve, em grande parte, pessoas que já não fazem mais parte da estrutura de governo, bem como servidores que não atuam como ordenadores de despesas ou tenham poder de decisão na estrutura do Estado ou da investigação em questão.
“O Governo do Estado reitera que tem atuado de forma transparente e que confia na Justiça”, destacou.