MANAUS – Na disputa por um quarto mandato na Prefeitura de Manaus, Alfredo Nascimento (PL) busca consolidar a marca de gestor experiente e afirma que trará de volta programas bem avaliados nas suas passagens pela cadeira de prefeito.
Ao mesmo tempo em que exalta sua experiência, diante das candidaturas dos políticos “novos”, garante ter “vigor” ao se contrapor a seu padrinho político, o octogenário Amazonino Mendes (Podemos), que aparece como líder nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora.
Em referência indireta a Amazonino, ele diz que será um prefeito de bairro, que vai estar nas ruas e que não vai entregar a gestão na mão de terceiros.
“(…) eu não tenho mais idade, nem história, para ser mamulengo de ninguém. Eu não quero dividir a prefeitura com partidos políticos como outros fizeram”, afirma o político, que firmou aliança com o atual prefeito, Arthur Neto (PSDB), a quem defende mas diz se diferenciar pelo “estilo”.
Longe da prefeitura desde 2004, sem grande tempo de TV ou forte presença nas redes sociais, Alfredo aposta nos resquícios de memória da população, que por duas ocasiões fez dele o prefeito mais bem avaliado do país, como gosta de lembrar.
Na entrevista ao ESTADO POLÍTICO, ele fala sobre suas principais propostas, da relação com o governo Bolsonaro e com o governador Wilson Lima (PSC), que é usado pelo candidato como exemplo de um fracasso dos políticos eleitos na onda do “novo”. Confira:
EP – Desde que o senhor deixou a prefeitura, há quase duas décadas, a arrecadação cresceu bastante, mas tende a não crescer tanto nos próximos anos por causa da pandemia. O município tem dívidas de empréstimos que superam os dois bilhões de reais. Com o orçamento que se tem hoje, o senhor como prefeito conseguiria executar tudo aquilo que planeja?
AN – Olha, eu acho que a situação fiscal, financeira da prefeitura é muito boa. Quando eu saí da da prefeitura, há mais de 16 anos, em 2003 a arrecadação da cidade de Manaus era de cerca de 850 milhões de reais e hoje o orçamento do município é cerca de seis bilhões e meio de reais. A cidade cresceu pouco mais de 30% em relação ao número de habitantes e a arrecadação cresceu oito vezes. Eu tenho a convicção que o trabalho feito pelo Arthur (Neto, atual prefeito), de equilíbrio fiscal, de pagar as dívidas e estar com os pagamentos em dia, vai dar para mim toda a possibilidade de fazer aquilo que eu penso para a cidade.
Nós vamos enfrentar um ano muito difícil. Estamos no meio de uma pandemia, perdemos muitas vidas e perdemos muitos empregos, muitas pequenas e médias empresas fecharam e isso também provoca desemprego.
EP – E nesse cenário de crises, econômica e de saúde, qual será sua prioridade numa eventual gestão?
AN – O meu desafio é cuidar, prioritariamente, da saúde. Eu vou ter que aumentar a entrada no sistema, a cobertura do sistema, para atender bem a população, porque hoje nós temos 64% de cobertura, na entrada do sistema. É muito, se comparado com outras cidades, mas é pouco se comparado com a necessidade de Manaus. E a gente precisa ter prevenção a doença, cuidar das doenças que já existem.
E isso, eu vou poder fazer, porque eu tenho um jeito diferente de administrar. Eu fui secretário de Fazenda do Estado duas vezes e fui secretário municipal de Finanças e isso me deu muita possibilidade de lidar com o dinheiro para aplicar melhor.
Então, a minha prioridade, nesse momento, no primeiro ano de governo, é investir na saúde para que a gente tenha uma cobertura de 75% a 80% da população. O médico vai voltar a atender o paciente em casa. A casinha vai ter o remédio lá. (Dirão) ‘Ah, tem que concentrar a compra porque é mais barato’. Coisa nenhuma. Põe lá na casinha, tem que estar à disposição do usuário. A pessoa que está doente tem que ter o remédio na hora, entregue pela prefeitura porque isso é obrigação.
EP – Quanto à questão do desemprego, a prefeitura poderá ter uma atuação para mitigar isso?
AN – Como prefeito, eu vou ter que fazer investimentos para a geração de empregos. A gente fala sempre do primeiro emprego. Tem muito jovem desempregado. Eu conheci um projeto muito importante na Argentina, voltado aos jovens, chamado de Primeiro Passo. É diferente do primeiro emprego. Se você for procurar um emprego, a primeira coisa que exigem de você, é que você tenha experiência. O projeto que eu penso fazer, que eu também vou chamar de Primeiro Passo, é diferente. Eu vou procurar as empresas de Manaus, as indústrias do Distrito Industrial e vou junto com eles contratar jovens que não têm ainda experiência, pagar uma bolsa pela prefeitura para que eles sejam treinados pelas empresas. Terminado esse período, ele certamente vai estar qualificado, podendo ser aproveitado na própria empresa ou ser contratado em uma outra empresa.
Eu, prefeito, tenho que trazer para a minha responsabilidade a reabertura de micro e pequenas empresas que fecharam. Quando eu fui prefeito, eu tinha um projeto chamado Banco Social, que agora eu pretendo trazer de volta. Ele financiava pequenas empresas, salão de cabelereiro, por exemplo, pouca coisa, mil reais, dois mil. Uma oficina mecânica que fechou por falta de equipamento, a prefeitura financiar. E isso gira, é um investimento que retorna. A pessoa paga e você vai fazendo outros investimentos.
Isso vai ser o grande desafio de quem for prefeito no primeiro ano de mandato. Há grandes investimentos que precisam ser feitos, mas que podem esperar. O momento é saúde, recuperação de empregos e empresas, para a geração de emprego e renda.
EP – O senhor já foi prefeito três vezes. Além do banco, tem mais alguma inciativa que desenvolveu nos seus mandatos com esse propósito e que pode ser retomada?
AN – Eu tinha um projeto na minha época chamado Mãe Social. Ele substitui a creche. Há um déficit muito grande de creches. Todos (os candidatos) vão prometer construir creches. Eu não vou construir creches no meu primeiro ano de mandato. Eu vou implantar um programa, e não é nada novo, chamado Mãe Social. E como funcionava? A mãe era contratada no próprio bairro, tem que ter alguns pré-requisitos, receber treinamento e cede um espaço da casa dela, uma espécie de mãe acolhedora, para receber cinco crianças. Assim, ela passa a ter um emprego, recebe cinco crianças – recebia na minha época a comida das crianças, os equipamentos pedagógicos, os colchões – e a supervisão da Secretaria de Educação. A cada mãe que você contrata, você libera outras cinco para procurar emprego em outro lugar.
Manaus precisa de quatro a cinco mil mães sociais. Imagina gerar de quatro a cinco mil empregos nos bairros de Manaus, resolvendo dois problemas: um é geração de emprego, dois o problema de creches em Manaus, de forma rápida. Porque para construir creches, como vão prometer, 200, 90, vão levar muito tempo. Termina o mandato e não constrói cinco, 10% das creches que foram prometidas. E aí tem uma diferença, economia para o municípío. Porque o custo per capita de uma criança no Mãe Social é menos de 20% do que custa numa creche, que você gasta para construir e tem a manutenção, o pessoal.
EP – A pandemia evidencia alguns dos problemas da cidade e há outros, históricos, como o transporte coletivo, que entra gestão e sai gestão, e não melhora significativamente…
AN – O transporte coletivo é um dos maiores problemas que nós temos na cidade. Eu vou resolver. Eu resolvi uma vez quando fui prefeito, eu sei como resolver. Para resolver, nós precisamos cumprir alguns pressupostos.
Primeiro, não adianta remendar. É verdade que o Arthur tá entregando agora 300 novos ônibus. Vai melhorar, vai aliviar, mas isso não resolve. Por isso precisa que alguém que conheça, que saiba, que tenha vivido a experiência de prefeito, que tenha sido ministro dos Transportes para resolver esse tipo de problema.
Esses três pressupostos são fáceis de compreender. Tem que ter ônibus em quantidade suficiente. Tem que ter ônibus novos. Tem que ter velocidade no sistema de corredor exclusivo para que os deslocamentos sejam mais rápidos em direção ao centro da cidade.
Para essas coisas todas que a cidade precisa, há que se ter experiência. Não se pode cometer erros. E tem que ter vigor, vontade, desejo, a chama acendida, de ser um prefeito como eu fui. Eu fui um prefeito de bairro, de acompanhar, de ver os problemas.
EP – O senhor implantou o sistema Expresso. Acredita que se ele tivesse tido continuidade, com aperfeiçoamentos, o cenário seria outro?
AN – Total. O sistema de corredor exclusivo funciona no mundo inteiro, menos em Manaus. Quando eu implantei, ao invés de continuarem interromperam o sistema porque, infelizmente, a política é a arte de destruir. Por que eu sou candidato e aceitei ser candidato junto com o Arthur? Primeiro porque ele fez coisas boas. Segundo porque eu não tenho mais idade, nem história, para ser mamulengo de ninguém. Eu não quero dividir a prefeitura com partidos políticos como outros fizeram.
EP – Mas o senhor fez alianças…
AN – Eu só tenho uma relação, com o PSDB, com o prefeito Arthur Neto. Mas o prefeito serei eu. Eu tenho um estilo totalmente diferente do dele e nós conversamos sobre isso. Eu vou trabalhar com quem eu quiser, do jeito que eu quiser porque o responsável pelos erros e acertos da cidade serei eu.
Eu tenho a certeza de que posso ser um prefeito bom para a minha cidade, que me deu a oportunidade, duas vezes, de ser o melhor prefeito do país. E não se faz administração pública com discurso, com coisa do passado, com não sei o que… ‘Ah, eu sou o novo e prometo’.
EP – Muitos foram eleitos nessa onda em 2018.
AN – Se (a prefeitura) cair na mão de alguém inexperiente, como está o Estado do Amazonas, numa situação extremamente difícil porque entregaram um estado para alguém que não tinha nenhuma experiência, nenhuma vivência.
Eu acabei de falar no primeiro emprego. Penso que, ao invés de se começar pelo primeiro emprego, a gente tem que começar pelo treinamento, pela prepração dessa pessoa para ter o primeiro emprego. E o primeiro emprego do governador do Estado foi ser governador do Estado. As pessoas não perguntaram para ele se ele sabia fazer aquilo.
Assim, eu não sou melhor do que ninguém, não sou mais correto que ninguém, mas Deus me deu a oportunidade de subir os degraus da escada da vida e ocupar todos os cargos que um político gostaria de ocupar. E eu tô pronto para ajudar a cidade que me recebeu há mais de 40 anos e me transformou num político que tem uma história e um currículo do qual eu me orgulho muito.
EP – No início, o senhor já falou de creche, que era um dos tópicos. O ensino da rede municipal tem alcançado bons índices no Ideb nos últimos anos, mas há um problema estrutural. Sobretudo com escolas alugadas e inadequadas. O que o senhor faria como prefeito com relação a isso?
AN – Olha só como é a questão de estilo. Eu tinha um estilo diferente, eu construía em média 15 escolas todos os anos. Como eu fazia? Sempre há uma demanda nova para ser atendida. Então, aquela demanda nova que estava sendo atendida, a gente tinha que alugar escola, não tem como construir para alunos novos no início. Mas, onde eu alugava um espaço para servir de escola, eu já construía durante aquele ano a escola que seria definitiva.
EP – O aluguel era transitório.
AN – Isso. Mas hoje quase 200 escolas são alugadas pela prefeitura. Eu visitei uma delas e não gostei do que vi. É claro que eu não vou poder resolver esse déficit num período muito rápido, mas eu vou ter um padrão de novas escolas, vou discutir muito. Escola tem que ter padrão e quem não tiver não vai alugar para a prefeitura. ‘Ah, mas eu tenho um contrato’. Eu vou cancelar porque não atende às exigências, e vou superar isso gradativamente. É impossível, ninguém é mágico, construir 200 em quatro anos. Mas você pode reduzir isso e criar um padrão melhor para que essas escolas abriguem bem os alunos do município.
O Arthur melhorou isso. Quando ele recebeu a prefeitura do Amazonino, a educação do município era a 23ª colocada no Ideb e hoje é a 9ª do País, está entre as 10 melhores avaliações. Eu vou melhorar isso, porque não entendo que a gente possa melhorar a vida das pessoas se não for por via da educação, sobretudo das mais simples, mais pobres.
EP – E o que mais o senhor pensa para essa área?
AN – Tem algumas coisas que eu vou trazer de volta, especialmente por conta dessa crise do desemprego. Quando eu fui prefeito, o pai de aluno da rede municipal não gastava um centavo porque eu dava fardamento, livro, caderno. Tinha o conga, a mochila. Então, o pai, a mãe não gastava absolutamente nada. Isso vai voltar. Eu, prefeito, os alunos da rede municipal de ensino vão ter de volta tudo que tinham na época em que fui prefeito, há 16 anos. Se eu podia fazer isso lá atrás, eu vou poder fazer agora.
Eu vou agregar esse benefício em função principalmente do desemprego que está aí. Agora, com o fechamento das escolas, a prefeitura teve que distribuir a comida na casa dos alunos porque não tinham o que comer. Na minha época, tinha cardápio. Para quem não viu, parecer coisa absurda, mas tinha nutricionista para montar esse cardápio para o estudante.
Acho que, como prefeito, eu posso agregar muita coisa, porque o equilíbrio fiscal promovido pelo Arthur, que as pessoas vão reconhecer depois, vai me dar a oportunidade de fazer coisas para melhorar a vida das pessoas. E eu enxergo que a gente tem que mexer em coisas para proteger a população. É dever do municípío.
Nesse momento de dificuldade há que se ter experiência, determinação, vigor. Você não poder ter intermediário. Em outros cargos talvez você possa fazer isso, mas para ser prefeito você tem que ir lá, tem que conversar, tem que ver.
Eu, quando fui prefeito, só ia na sede da prefeitura duas vezes por semana, meio expediente. Prefeito na prefeitura, dentro de casa, só dá prejuízo para a cidade. Porque o assessor que você manda olhar, eles vêm com três histórias diferentes. Então, você tem que ir e eu tenho vontade, desejo, vigor de ser um prefeito melhor que fui, e olha que eu fui o melhor prefeito do país.
É por isso, principalmente por isso, que eu quero ser prefeito de Manaus. Eu quero dar uma ajudada nessa cidade, que eu escolhi para viver, que eu amo muito. Eu nasci no Rio Grande do Norte, mas eu não tenho nenhuma identidade com lá.
EP – O senhor falava da gênese da cidade e boa parte dela, cerca de 70% ou mais, é formada por ocupações irregulares. Um problema que em ano eleitoral não estamos ouvindo muito falar, mas é um problema. E é um problema para quem está lá na ocupação, é um problema para quem está nos arredores, tem dano ambiental, o conflito de posse, uma série de questões. Como seria sua postura sobre esse tema à frente do que seria seu quarto mandato como prefeito?
AN – Olha só, eu quando fui prefeito da primeira vez, a situação não era muito diferente da atual. Hoje você tem mais de 200 mil pessoas, segundo estudos, ocupando áreas irregulares por invasões, sem nenhuma infraestrutura, não tem energia, não tem asfalto, não tem escola, não tem posto de saúde, não tem absolutamente nada.
Primeiro eu entendo que essas pessoas estão nesses lugares, na sua grande maioria, porque não tem oportunidade de morar em algum lugar. O governo federal tem um programa de habitação que, se você se estruturar bem, se você criar uma equipe técnica boa, dá para você construir muita casa em Manaus e eu vou fazer isso. Eu conheço os trâmites do governo federal por ter sido ministro, por ter sido o senador e eu tenho certeza que dá para gente dar uma alavancada na falta de residências na cidade de Manaus.
Quando eu assumi a prefeitura na primeira vez, a cidade de Manaus, se você considerar a Zona Leste da cidade, ela só existia até a bola do Jorge Teixeira e o Jorge Teixeira 1, mas as outras áreas ali, Braga Mendes, Mundo Novo, Cidade de Deus, Alfredo Nascimento, Monte Sião, Valparaíso, Jorge Teixeira 2, 3, João Paulo 1, 2, isso tudo era sem infraestrutura. Eu fiz sabe como? De forma gradativa, indo conversar com as pessoas que não têm nada e estabelecendo prioridades.
Quando você chega num bairro novo, numa ocupação nova, as pessoas querem tudo, porque falta tudo. Se você não aplicar bem o dinheiro, se você disser assim “eu vou fazer esse bairro todo”, não vai fazer e os outros vão continuar abandonado. Mas se estabelece uma prioridade, discute com a comunidade “qual é a maior prioridade de vocês aí?”, se eles disserem “energia elétrica”, vamos entrar com energia elétrica. Se eles disserem “não, mas a gente precisa também”, você diz “não, não tem só esse bairro, têm vários”. Eu vou para o outro para ter uma outra prioridade e você consegue equilibrar o gasto da prefeitura, o gasto gradativo, para que você vai resolvendo esses problemas.
EP – Para isso precisa ir nas periferias constantemente.
AN – O prefeito tem que ser o maior fiscal da cidade, ele não pode ter intermediário, ele não pode ter secretário fazendo as coisas por ele. Ele não pode assessor trazendo informação para ele porque ele vai desperdiçar dinheiro e prefeito na prefeitura, sentado no ar condicionado, só dá prejuízo para cidade. Assim, ele não recebe na prefeitura pessoas simples, pessoas que verdadeiramente têm problema, porque os próprios assessores, os próprios secretários não deixam essas pessoas chegar ali.
EP – O senhor falou em assessores que às vezes acabam atrapalhando. O TCE, no julgamento técnico das contas do ano passado da prefeitura, apontou que há um número muito grande de servidores comissionados e temporários. O de comissionados passa dos 2.000. O senhor acha que é preciso realmente fazer concurso? O senhor vai fazer se eleito?
AN – É necessário em algumas áreas. Vou criar, por exemplo, vou trazer de volta a Secretaria Municipal dos Esportes, que eu criei.
A cidade de Manaus se afastou muito da prática esportiva e isso é necessário, mas não adianta também você tem um equipamento esportivo da prefeitura se você não tiver pessoas para cuidar. Se você faz uma academia a céu aberto, um campo de futebol, uma quadra, tem que ter um professor de educação física lá para cuidar e orientar os procedimentos, se não não vai adiantar. Por isso que os equipamentos esportivos das cidades estão largados.
Naturalmente nós vamos ter concurso. Eu vou ter que gerar emprego, nós vamos ter que ter Mãe Social, eu vou implantar esse programa na cidade de Manaus para substituir creche. E todas essas atividades que precisam ser complementadas, você precisa de pessoas para cuidar, o prefeito não administra sozinho.
EP – Mas esse nível atual de comissionados o senhor acha que está bom ou dá para enxugar?
AN -Eu não sei. Eu sei que foi feito enxugamento em relação ao que existia, não sei se isso é necessário. Eu vou chegar à prefeitura, se ganhar eleição, e vou avaliar isso. Eu acho que você não pode ter exageros, mas não pode faltar, tanto faz comissionados como concursados, como contratado temporário. Você tem que trabalhar com o número próximo do ideal. Agora, que tipo de atividade é? Você tem às vezes em cargos comissionados coisas muito soltas, mas você não pode também acabar com cargo comissionado para alguém que exerce a tarefa, uma função, que é da confiança do prefeito e de repente ele faz errado e você não pode trocar, tem que pesar esses dois lados. Então, assim, eu gosto muito do equilíbrio.
EP – No governo federal, o senhor foi muito próximo das gestões do ex-presidente Lula, e da ex-presidente Dilma, foi ministro deles. Como é que o senhor teria uma relação com o atual governo?
AN – A política é feita de altos e baixos, você comete erros e você comete acertos. Eu, quando votei no PT, eu fui o primeiro prefeito de capital a votar no Lula, eu entendia que o Lula era minha última esperança de ver esse país um pouco melhor pelo discurso que eu ouvia, pelo que eu acreditava. Eu votei e servi o governo do PT, errei, me equivoquei. Corrigi na frente, como parlamentar, presidente nacional do meu partido, renunciei ao meu mandato como presidente do partido para votar pelo impeachment da Dilma porque eu entendi que o PT não tinha mais condições, nenhuma condição de conduzir o país. Nessa eleição, em que o PT tinha o Fernando Haddad como candidato, que foi meu colega Ministro, eu votei no Bolsonaro, sabe por quê? Porque o PT não tinha mais condições de governar, se voltasse o PT nós teríamos hoje uma guerra civil como em alguns países da América do Sul.
EP – E o senhor acha que a gestão do Bolsonaro, sobretudo a visão dele sobre a Amazônia, está correta, é a melhor possível?
AN – Não. Eu não estou defendendo o princípio, eu estou defendendo de que lado eu fico. Eu votei no Bolsonaro, estou torcendo para dar certo. Eu tenho algumas críticas e prefiro não as mencionar, acho que tem tempo para corrigir muita coisa. E para nós todos da Amazônia, nós precisamos que isso dê certo porque, quanto mais dá errado no governo federal, pior as coisas acontecem para a gente.
A gente tem que ter uma proteção maior sobre a Zona Franca de Manaus, tem que tomar muitos cuidados, a gente tem que ter um cuidado exagerado com Amazônia, não cuidar da Amazônia não é ruim só para nós aqui, é ruim para o país, a repercussão lá fora é muito ruim e eu torço para que isso o que tem sem funcionamento acabe sendo consertado para que a gente tenha um país melhor.
Eu vejo pessoas dizendo “não, eu não voto porque não sei o que”, “eu sou do lado do Bolsonaro”, “sou contra, sou a favor”. Isso não muda nada. O presidente da República não vai interferir aqui, ele vai ter que ter uma relação com qualquer um que seja perfeito, vai ter que ter uma relação.
O meu partido é da base do governo Bolsonaro, mas isso não quer dizer que a gente tem que seguir cegamente as coisas, cada pessoa tem uma posição, cada pessoa acha isso ou aquilo sobre administração do país, do estado, do município.
Então, assim, eu vou ter uma boa relação com quem quer que seja o presidente da República.
EP – O senhor citou aí que fez aliança apenas com o PSDB, que não vai entregar sua gestão para partidos. Mas, o seu partido é um partido grande, influente, forte e ainda assim não conseguiu arregimentar um número bom de alianças para conseguir um bom tempo de TV, que é tão importante para a campanha. Sua presença digital não é tão intensa, não é tão grande como de outros candidatos. E aí tem mais um fator aí que é a questão da pandemia, a campanha não vai ser como antes, né? De presença, de rua. Como que o senhor pretende fazer para superar essas questões?
AN – Olha, primeiro eu aposto muito no discernimento das pessoas. A pesquisa representa o cenário é momentâneo. Eu realmente não fiz entrada em rede social, eu não imaginava ser candidato a prefeito de Manaus.
Eu fui procurado por todos, estiveram na minha casa, vão negar naturalmente, mas todos me procuraram em função de eu ter um partido importante, em função de ter um pouco de história aqui como prefeito, ter um legado forte, que está adormecido, verdade. E eu só aceitei ficar com o Arthur porque eu entendo que a prefeitura ela não pode ser loteada. Eu teria condições de ter outros partidos comigo, vocês sabem que naturalmente isso iria acontecer, mas eu preferi ficar com uma relação com o PSDB e com relação de independência.
Minha conversa com o Arthur, é uma conversa republicana. O Arthur compreende que eu sendo prefeito serei eu o prefeito, ele será meu amigo como é, mas as decisões serão minhas, eu farei aquilo que eu achar que tenho que fazer como prefeito. Vou ouví-lo muito e ele tem muita coisa boa que pode ser aproveitada, que é o maior problema que terá na cidade se alguém de oposição ganhar eleição, vai interromper tudo que foi feito que preste.
Será que vão manter esse equilíbrio fiscal? Será que não vão pegar e gastar com coisas indevidas? Como é que vão administrar essa prefeitura?
Todos os candidatos, está cheio de gente por trás fazendo a política, ocupando espaço, buscando fazer coisas com as quais eu avalio e não concordo. Se eu imaginar que isso vai acontecer, eu tenho mais de 60 anos, 37 anos de vida pública, olho nos olhos das pessoas, sofri uma denúncia ao longo da minha vida pública, fui inocentado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Supremo Tribunal Federal, eu tenho atestado de bons antecedentes.
Isso de dizer ‘ah, denúncia não sei de que’ isso é papo furado, eu quero saber de processo, eu tive e fui inocentado. Estou absolutamente tranquilo, não posso perder o meu pescoço depois de velho.