MANAUS – O ESTADO POLÍTICO dá início a uma série de entrevistas com pré-candidatos a prefeito de Manaus. O primeiro entrevistado é o vereador Chico Preto, do partido Democracia Cristã (DC).
Uma das únicas vozes de oposição ao atual mandatário do cargo, Arthur Neto (PSDB), na Câmara Municipal de Manaus (CMM) – e a mais contundente delas -, Chico faz uma análise da gestão do tucano, que encerra neste ano seus oito anos à frente do Executivo, e diz quais as linhas mestras da sua proposta de governo, que incluem mobilidade urbana, transparência e desburocratização.
O prefeiturável também fala sobre relação institucional com o governador Wilson Lima (PSC) e com o Parlamento, onde “torce” que haja uma renovação de 30 dos 41 vereadores.
Na entrevista ele fala também sobre antigos aliados, alianças para esta eleição e sobre sua relação com o bolsonarismo. Confira:
EP -Vereador, vamos falar da arrecadação do Município no primeiro semestre. Cresceu em relação ao ano passado, apesar da pandemia. A prefeitura projetava uma queda de arrecadação e em função disso reduziu estruturas, fez demissões…
CP – A receita da prefeitura neste ano foi maior do que janeiro a junho do ano passado. Em 2019, de janeiro a junho, a Prefeitura de Municipal de Manaus arrecadou dois bilhões e trezentos e nove milhões de reais. De janeiro a junho deste ano, período da pandemia, nós tivemos dois bilhões quatrocentos e cinquenta e sete milhões de reais de receita. E aí, quando surge o evento do coronavírus, que aconteceu, ninguém nega isso, mas aquele catastrofismo “não, vai cair a receita, e isso, vai ter que cortar, tem que cortar”’. Não! A receita não caiu.
Por outro lado, a prefeitura, o prefeito dizia “olha, vou cortar despesas, vou fazer economias, etc, etc”.
Mas, não houve corte de despesa algum. Sobrou para os estagiários, que foram afastados, sobrou para o Proncon Municipal, que no momento faz falta, a gente tá vendo aí reclamações de preço de cimento, preço de tijolo e a prefeitura não tem mais um instrumento para mediar, até mesmo para combater abusos, porque na hora de cortar cortaram onde, na minha opinião, não deveria, inclusive meus votos foram contrários a essa coisa assim, abrupta, sem uma explicação, sem um debate mais profundo.
Os números da prefeitura, tanto da receita, quanto da despesa, mostram uma coisa: a prefeitura não sabe planejar e o discurso não é confiável.
EP – Essa semana que passou a prefeitura anunciou que vai manter, apesar de tudo isso que o senhor informou, essa mudança que ela promoveu.
CP – É a cara do Arthur. No momento da pandemia, se não fosse o pessoal da Samel dar uma ajuda para o Arthur (refere-se ao hospital de campanha), o Arthur não tinha feito nada na cidade de Manaus. Vejo o prefeito terminando essa sua gestão de forma perdida, atabalhoada, o que é ruim porque o próximo prefeito daqui a pouco assume e vai pegar uma cidade com essas contradições, com graves problemas, com transporte coletivo que está esculhambado.
Conforme os números de janeiro a junho, não teve diminuição nenhuma de gasto e aquilo que dizia que ia cair a receita também a receita não caiu. Ou seja, planejamento falho, uma execução falha, o que só gera desconfiança e mostra a contradição da prefeitura.
EP – Já que o senhor falou no próximo prefeito, vamos falar então sobre ideias, projetos. A rede de atenção básica da capital, apesar de Manaus ser uma cidade rica, uma dez das capitais mais ricas do Brasil, ela alcança apenas cerca de 50% da população. Como que o senhor faria, como prefeito, para resolver isso?
CP – Priorizando. Quando você vê uma prefeitura que gastou em oito anos, próximo de 700 milhões de reais com publicidade, propaganda, esses 700 milhões fariam total diferença na saúde do povo, na infraestrutura, em levar realmente atendimento. Quando você vê uma prefeitura que gasta mal quando o assunto é aluguéis, a prefeitura paga o dobro da média da iniciativa privada dos valores dos aluguéis, tem escola que você paga oitenta mil reais de aluguel por mês, e a escola não vale oito milhões de reais.
O próximo gestor vai encontrar coisas boas, aí eu me refiro especificamente à questão da previdência, ela foi bem gerida, houve responsabilidade, mas quando a gente sai dali e vai para saúde, você tem esse vácuo, principalmente na Zona Norte, onde há maior necessidade de atendimento de saúde básica. Vai ser um desafio, cortar despesas, cortar gastos desnecessários, para você carrear para saúde, infraestrutura e política de educação, que na minha opinião, são os carros chefes aí da Prefeitura de Manaus.
EP – O senhor disse que a prefeitura hoje gasta mal. Ela também faz muito empréstimos, a gente tem aí 2 bilhões de empréstimo desde o início de mandato do atual prefeito. O senhor consegue ver isso transformado em investimento?
CP – Depois de 2 bilhões de empréstimo, mais 25 bilhões de arrecadação própria, repasses e arrecadação, que a gente está falando de 27 bilhões de reais. Bora para infraestrutura da cidade: quantos viadutos a gente tem na cidade depois de tudo isso? São dois.
Tem muitas coisas na gestão do Arthur que se assemelham muito à forma como o PT operou no Brasil durante os últimos anos. O escândalo do Mensalão do Marcos Valério era utilizado empresa de publicidade para desviar dinheiro, para pagar acordos, para comprar apoio, esse gasto com publicidade e propaganda, para mim, não tem outra explicação não. Agora, “Chico, tu tem as provas disso?”. Não, mas eu tenho direito de achar o que eu penso, de dizer como vereador.
EP – A prefeitura divulgou recentemente números da intervenção no transporte coletivo. Injetou 60 milhões e admitiu que há um déficit no sistema. O senhor como pretendente a gestor da prefeitura, qual sua ideia de transporte coletivo que pudesse funcionar bem e isso não acarretasse custos para o usuário e nem as injeções de dinheiro da prefeitura?
O relatório da intervenção só contabilizou o dinheiro que entra pela antecipação da passagem do sistema de bilhetagem. O dinheiro que o povo paga diretamente na catraca que não foi contabilizado, o relatório não fala nada disso.
Estão operando com lucro. Se você não tá tendo lucro, você tá perdendo dinheiro, o que tá fazendo aqui? Pega o beco, né? Mas não sai. E me preocupa muito a falta de clareza do sistema de transporte coletivo. O sistema piorou muito na mão do Arthur, ônibus quebrando, ônibus pegando fogo, promessa de renovação, de frota que não veio desde a época do aumento da passagem.
Nós temos um plano de mobilidade. Eu penso que é preciso seguir o plano de mobilidade, rever o que pode, se precisa seguir, mas sem ver realmente as coisas acontecendo gestão por gestão. Segundo, é entender que o povo mudou o comportamento, para fazer pequenos deslocamentos, pega o Uber ou uma lotação e vai, é mais barato e mais rápido. Quando as distâncias são grandes o povo precisa de ônibus.
Então, o Chico perfeito, a concentração dele no deslocamento das grandes distâncias, o povo que mora no Viver Melhor precisa chegar no Centro, o cara do São Jorge que precisa chegar no Mauazinho.
Transporte numa via exclusiva, porque tem que andar rápido, só que o cara precisa ter coragem de tirar o ônibus das principais vias e distribuir esses ônibus dentro dos bairros para fazer o resto da conexão. É essa lógica, reativar a via exclusiva, porém retirando o ônibus das principais avenidas para aumentar a capacidade de fluxo e resgatar a compra de ônibus novos, porque o povo pagou e os ônibus não chegaram e nem a prefeitura e nem a Câmara… eu tentei mas a tropa de choque do Arthur não quer mexer nesse assunto.
Eu quero saber o seguinte, onde é que foi parar o dinheiro da renovação? O povo pagou e os ônibus não chegaram e a prefeitura ainda tem que ficar botando dinheiro, ano passado foram 60 milhões. Sabe quantos milhões já foram esse ano? Esse ano a prefeitura já colocou 50 milhões. E os caras não mostram a entrada do dinheiro na catraca. Por que isso? Que tipo de acordo é esse? Que combinação é essa? Parece aquele acordo “caracu”, né? Que a pessoa fala, eles entram com a cara, e a prefeitura entra…Tá entrando, né? Então pessoal, tem que rever, tem que ter coragem de mexer nessa caixa preta e essa é minha disposição.
EP – Além da mobilidade, outro grande problema da cidade é a questão do saneamento. O sistema foi privatizado e avançou bastante no abastecimento da água, mas o esgotamento está longe disso, alcançando no máximo 20% da população. Deu certo essa privatização?
CP – Você mesmo reconheceu que houve avanço na água. Então, eu acho que tá cumprindo seu papel. Agora, não é da noite para o dia. A prefeitura com a privatização se retirou desse tópico de saneamento básico. Mas, o saneamento básico não é só água e esgoto, é varrição, é coleta de lixo urbano, isso também é saneamento básico, mas no ponto específico água e esgoto a prefeitura se retirou desse assunto e concedeu para uma empresa privada as suas ações.
Têm algumas coisas que me chamam a atenção. Quando eu olho para Manaus, uma tarifa de 100% de esgoto e olho para Belém e vejo que lá é 55, olho para Porto Velho e vejo que é 60, olho para Salvador e vejo que lá é 55, eu fico me perguntando ‘ué, por que eles podem ter uma tarifa de 50, 55, 60 e a gente 100?’. Isso é uma coisa que me chama atenção, é uma coisa que merece uma avaliação técnica, uma auditoria. A empresa trabalha mediante eficiência e, se cumpriu as metas, vamos discutir o reajuste. Se não cumpriu as metas, não tem que se falar de reajuste. Isso não é pedagógico, né? A gente tem que mudar isso aí.
A gente tem que trabalhar com a empresa privada. Não pretendo reestatizar serviço de água e esgoto, agora trazer luzes sobre essa relação. O Amazonino quando foi prefeito (2009-2012), e não disputou a eleição porque sabia que ia perder, não fez uma boa gestão e não conseguiria fazer uma boa gestão nesse exato momento porque tá desatualizado, tá ultrapassado. Ele aumentou de 80 para 100%. Ele aumentou. O Amazonino (Mendes, do Podemos) aumentou de 80% para 100% a tarifa e a Câmara naquele momento comeu abiu, não falou nada. A gente tem que rever isso. Até hoje os caras não mandaram para Câmara esse estudo técnico.
EP- Já que o senhor falou do ex-governador Amazonino, que é tido como “a velha política”… O senhor lançou um slogan nas suas redes sociais que é “nem novo, nem velho, preparado”. O que lhe credencia a estar preparado para administrar o Executivo municipal?
CP – Não foi nenhum marqueteiro que fez (o slogan), fui eu que fiz, eu acreditei porque é a verdade da minha vida. Não sou novo. Tenho 23 anos de vida pública com uma ficha limpa. Você pode discordar do Chico Preto, “não concordo com a sua ideia”, beleza. Mas não me aponta o dedo para dizer “pô, corrupto, bandido, tá em Maus Caminhos, tá na Lava Jato, fez vinho virar respirador”, não. Discorde das minhas ideias. Então, eu não sou novo, mas também não sou velho, não sou aquele cara que tá ultrapassado. Eu me sinto atualizado. Velho é o cara, por exemplo, tentar trazer o Orkut para funcionar na época do WhatsApp, não vai funcionar.
Trazer o Amazonino ou trazer alguém muito novo para esse momento, a gente já tá vendo aí o que tá acontecendo no Governo do Estado, a falta de conhecimento, a falta de maturidade, a falta de uma certa experiência, o que faz com que o governo navegue em círculos.
Tenho quatro mandatos como vereador, dois como deputado estadual, fui presidente da Câmara, fui secretário, aprovei todas as minhas contas, não estou envolvido em nenhum escândalo, sabe? Confiável, pronto para tomar decisões. Então esse slogan “nem velho, nem novo. Preparado” reflete muito bem esse momento da minha vida e essa motivação que me faz dizer que sim, para ser pré-candidato a prefeito de Manaus e daqui a pouquinho candidato.
EP – O senhor falou sobre a Câmara ter uma tropa de choque de vereadores a favor do atual prefeito. Como seria sua relação com a Câmara? Supondo aí um cenário desfavorável, com uma base de apoio pequena. E já que o senhor citou o governo, como seria a relação do prefeito Chico Preto com o atual governador?
CP – Com relação ao Governo do Estado, eu não preciso gostar do governador, o governador não tem que gostar de mim. Eu não quero ir comer churrasco na casa do governador, o governador não vai tomar tacacá na minha casa, mas a gente tem que ter maturidade para trabalhar.
Então, enquanto prefeito vou trabalhar com transparência, com firmeza e, óbivio, Manaus é capital do Amazonas. O governador não pode negar recursos para Manaus, não é para mim, para o prefeito. Tem que sentar e dialogar com senadores da República, com quem também eu não vou na casa para comer churrasco e não vêm na minha casa para comer tapioca, mas a gente tem que ter maturidade para trabalhar. Então, com maturidade a gente trabalha, enfrenta e vamos em frente.
Em relação à Câmara, eu venho de lá. Se for preciso estar lá para defender os projetos toda semana, eu vou estar lá. É uma forma de respeito.
Agora, não dá para a gente falar de “toma cá dá cá não”, não dá para falar no troca-troca, não cabe mais na política. Vereador tem salário, vereador tem gabinete, vereador tem verba de gabinete, vereador tem que trabalhar com o que tem. Aquela história de construir base, de ter que dar um cargo, ter que dar isso, ter que dar aquilo, não me passa pela cabeça, sabe por quê? Eu sou vereador, contribuo com a minha cidade, critico a prefeitura, contribuo com a prefeitura e não cobro nada por isso, o povo já me paga, eu não cobro nada além e por isso não chego lá com o Arthur: “olha, para eu dar essa sugestão tem que me pagar”, não. Tem que me convencer. Não tenho cargo, não pedi cargo não, não tenho licitação, não pedi licitação, não pedi pagamento e me mantive aonde vereador tem que se manter, independente, firme, para poder exercer seu papel.
Então, não vejo dificuldade nessa relação.
Agora, eu torço muito para que a próxima legislatura da Câmara Municipal de Manaus, promova uma grande mudança. Que o povo promova uma grande mudança para dar chance de novos pensamentos, novos ares ali na Câmara Municipal de Manaus. Porque isso facilita também um novo marco nessa relação.
É difícil você pegar alguém que tá com a boca torta de tanto fumar cachimbo e você desentortar, dói. Enfim, eu torço para que haja uma mudança muito grande, pelo menos 30 novos vereadores, é o que eu gostaria de ver na Câmara Municipal de Manaus, com um prefeito que não é novo nem velho, preparado, mas que vem lá de dentro aí que vai dizer o seguinte, ‘olha, nossa relação agora é política, ela não é financeira.
EP – O senhor falou ainda há pouco da relação institucional com outros políticos, falou também de amizades. Eu queria falar um pouco de alianças, e não vou muito longe não, eu vou resgatar a última eleição apenas. O ex-governador David Almeida (hoje Avante, na época no PSB) foi seu colega de chapa nas eleições de 2018, ele candidato a governador e o senhor a vice. O senhor abriria mão da sua pré-candidatura em 2020 para apoiá-lo, para ingressar, de repente, na chapa dele como vice novamente?
CP – David Almeida foi a eleição de 2018, ela não se repete, foi aquele momento. Eu tenho pensamentos diferentes do David, tenho mais experiência, mais tempo de vida pública que o David e me sinto preparado para tomar decisões que Manaus precisa. Acho que sou mais independente para tomar essas decisões, minha caminhada deixa muito claro isso.
EP – E qual é o arco partidário que interessa ao senhor, que interessa ao seu grupo, à sua candidatura? Quem estaria dentro das discussões?
CP – Alianças, não têm tantas assim não, mas com os partidos de direita. Vai depender muito se os caras acreditam no programa que a gente tá oferecendo para Manaus, por exemplo, tem que acreditar que tá na hora de você descentralizar a prefeitura, aí a gente tá falando de subprefeituras, novo modelo de gestão, aproximar prefeitura das comunidades, aproximar do povo. Vejo a prefeitura distante da população, os problemas se acumulam.
EP – O senhor pode citar nomes, siglas?
CP – Não são tantas pessoas não. A gente tem algum diálogo com o PRTB, algum diálogo com PSL. Torço para que a gente chegue a bom termo que a gente consiga de alguma maneira juntar partidos, pessoas que têm pensamentos, não vou dizer idênticos, mas por exemplo desburocratização une esses partidos, a questão da descentralização já percebi que une. Agora, tem uma divergência conceitual aqui, acolá.
Partidos de esquerda eu não falo mais nada porque na esquerda o cara fala uma coisa e faz outra, mas a direita tá sendo muito cobrado hoje para não cair na vala comum. “Eu sou de direita”, mas aí na hora você faz acordo com Deus e com o diabo, os caras vão dizer “égua, não”, o cara que tem um voto de direita não aceita isso. Então, estes partidos que estão no espectro da direita precisam pensar bem para não cair em contradição, pensando só no projeto eleitoral. O projeto é político e eleitoral. A gente tem que ganhar eleição? Tem, mas tem que ter lógica política, senão você, bicho, sabe? Cai na contradição e diz “faria isso”, mas vai e faz outra.
Hoje tem um segmento eleitoral dos eleitores aí que não admite mais isso e tanto o PSL, o PRTB e o próprio DC, que entram nesse segmento, não podem, na minha opinião, cometer esse equívoco.
EP – O senhor falou de subprefeitura, isso tá dentro do seu plano de governo? Aliás, já há um plano?
CP – Já. As bases do plano são: subprefeitura, desburocratização, muita eficiência e muita transparência. Eu digo muita transparência porque enquanto vereador eu apresentei esse projeto… um negócio que me incomoda muito hoje na prefeitura, todo mundo fala isso, eu não duvido que é verdade, na verdade eu tenho convicção que é verdadeira, é de que hoje, para você receber da prefeitura, se você não tiver na lista de prioridade, você não recebe, e essa lista de prioridade custa 10, 20, 30% daquilo que te pagam. Tem que acabar com essa esculhambação.
Eu quero fazer na prefeitura o contrário, as pessoas não vão saber só quem recebeu, as pessoas vão saber quem vai receber antecipadamente. Então, farei a lista com ordem pública e cronológica de quem vai receber para acabar com esse negócio de “olha, eu não sei quando eu vou receber, eu tenho que pedir favor de a, de b ou de c, mas esse favor custa 10, 20 ou 30%”. Eu quero acabar com isso na prefeitura, porque aí dessa maneira eu vou baratear as coisas dentro da prefeitura.
EP – E quais são as lições que o senhor tira das eleições de 2014, quando concorreu a governador? Claro, é um novo contexto, mas o que deu para aprender que o senhor vai usar nessa campanha?
CP – Eu esperei muito em 2014 que tivesse um partido grande, um partido pequeno, enfim, que algum partido viesse me apoiar. Em 2020, eu não vou esperar. Só espero por Deus e o povo, a gente não vai esperar partido.
EP – Ainda que seja só o DC?
CP – A gente vai até o final nessa caminhada, ainda que seja só o DC. Porque o DC é tudo o que eu preciso para firmar uma candidatura. Ainda que não tenha tempo de televisão, ainda que não tenha espaço no debate, a internet tá aí para compensar isso, mas eu não vou me privar de oferecer um novo caminho para Manaus, oferecer a minha história de vida confiável e preparada para apontar um novo caminho a para cidade de Manaus.
EP – A chegada do presidente Jair Bolsonaro ao poder na eleição de 2018 faz com que agora, nessa pré-campanha de 2020, muitas candidaturas, Brasil afora, não é só aqui, reivindiquem o posto de quem mais representa a direita, de quem mais representa o bolsonarismo. O senhor reivindica esse selo bolsonarista, de ser “o candidato do Bolsonaro em Manaus”?
CP – Eu sou eleitor do presidente Bolsonaro, eu sou apoiador do governo do presidente, mas eu quero ser prefeito do povo da minha cidade. E, sendo prefeito, quero linkar a prefeitura de Manaus ao governo, porque esse link ajuda muito a cidade a resolver problemas, coisa que o Arthur, por questão de vaidade pessoal, preferiu o confronto com o Bolsonaro. Ele não pensou em Manaus, está no final de mandato. Ele pensou em ter espaço para conversar com a Greta (Thunberg, ativista sueca), para falar francês, para falar espanhol, enfim, essas lambanças que o Arthur adora fazer. E negou o diálogo com o governo federal, que poderia ter feito mais por Manaus e não fez porque o Arthur não quis. Então, eu sou eleitor, apoio o governo, mas eu quero ser prefeito do meu povo com a minha história.
E outra coisa, depois de dois anos, eu acho que o presidente Bolsonaro já cansou de gente que só suga a imagem dele, o presidente está querendo gente que tem história própria e que seja confiável para ajudar mudar a cara desse país. Eu sou eleitor do presidente com convicção, apoiador do governo com convicção e quero ser prefeito para restabelecer um diálogo que o Arthur não conseguiu construir.
EP – Agora o senhor fala em ser o prefeito de toda a Manaus, mas há eleitores que não votam no Bolsonaro. E eu não digo nem da esquerda. Como fazer para conquistar esse voto?
CP – Sendo verdadeiro. Eu não posso esconder, eu sou eleitor do Bolsonaro. Vou esconder agora por causa de eleição? Não, eu não vou esconder que sou apoiador do presidente por causa de eleição. O cara que já começa assim tá mal, tá errado. Sabe? Você tem que se definir, o cara que não se define, o que esse cara pode propor para Manaus? Deus é bom, mas o diabo não é ruim? Pô, tem que ter uma posição. Ao dizer que sou eleitor do Bolsonaro não é dizer que o governo não tem falhas. Todo o governo tem um lado que é mais forte um lado é mais fraco, mas eu concordo com a coluna, com a espinha dorsal do governo, com desburocratização, eficiência, infraestrutura. Então, eu não vou negar isso para as pessoas.
Agora, como prefeito, eu vou administrar para esquerda e para direita, para cristão e macumbeiros, eu vou administrar para Manaus e tomar decisões para melhorar o ambiente de negócios, gerar empregos, fazer o micro-empresário acreditar, desburocratizar, transporte coletivo, levar a saúde onde tá faltando. Falta a ação nos espaços públicos, serviços públicos, como transporte… Tem um caminho muito grande de decisões que o próximo prefeito tem que tomar .
EP – Para finalizar, eu sei que tem uma pauta muito grande de discussão das coisas importantes da cidade, muitas. Mas, queria que o senhor elegesse algumas que achas que deve estar no ponto central dessa campanha.
CP – Eu não tenho dúvida de que a mobilidade urbana, transporte coletivo, trânsito, infraestrutura. A cidade vem perdendo muito ao longo dos últimos anos por um trânsito que só piora, que anda cada vez mais lento, então isso tem reflexo na economia. (As pessoas) têm que sair hoje, uma hora, uma hora e meia mais cedo do que antes para pegar um ônibus, porque o ônibus não tá na quantidade correta. Então, a gente tem esse desafio, se não for o maior, certamente é um dos maiores. Então, eu elegeria mobilidade.
Mas tem a questão econômica também, a prefeitura não pode ficar “não, economia é com o governo federal”, não! A gente tem um monte de coisa que a gente pode fazer aqui. Eu falei a questão da regularização imobiliária, isso é passo para você gerar negócio. Então o ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis) tá na mão da prefeitura, então bora baixar esse ITBI para o povo tirar da gaveta, porque para você regularizar um imóvel às vezes custa 4% do valor, isso pesa no bolso do cara e aí quando uma vez eu falei isso “ah, mas a prefeitura vai perder dinheiro”, ninguém perde aquilo que não tá entrando. A gente ganha menos, mas ganha. E outra, ganha mais, ganha no geral, porque o cara regulariza e ele começa a fazer negócio, vai pagar ISS ( Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza)… Então, tem que ter cabeça aberta, não dá para ser o novinho que não sabe o que é isso e não dá para ser alguém ultrapassado que também não vai enxergar isso, que precisa tomar essas decisões.
Então, negócios, economia, desburocratizar para gerar emprego, transparência na relação da prefeitura e mobilidade urbana, para mim, essa trinca de desafios que eu tô a fim de enfrentar. Só tô correndo atrás de uma chance para mostrar que é possível.
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