MANAUS – Depois de receber uma avalanche de críticas de médicos em suas redes sociais, o Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam) divulgou uma nota pedindo desculpas pela matéria que publicou em seu site, no dia 25, onde informa que pediu ao Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM) apuração sobre uma pesquisa realizada em Manaus sobre os efeitos da Cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19.
Leia a matéria aqui.
Na matéria, o Simeam classifica a pesquisa de “obscura”. Um dos autores do estudo é o pesquisador e médico infectologista Marcus Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical (FMT).
Além da matéria do sindicato adjetivar a pesquisa de obscura, os médicos também criticaram o fato do Simeam embasar seu pedido ao CRM-AM com matéria de um site simpático ao governo de Jair Bolsonaro. Os autores da pesquisa sustentam que o veículo divulgou fake news sobre o tema.
Na postagem no Instagram do Simeam, médicos se disseram envergonhados com o sindicado, que é dirigido pelo médico Mário Vianna. Na rede social, ele tentou contemporizar a polêmica, após ser questionado pessoalmente sobre o assunto. Marcus Lacerda foi um dos profissionais questionou o sindicalista.
Em um comentário no Instagram, Mário Vianna escreveu que iria rever as matérias que serviram de base para pedir providências do CRM-AM sobre a pesquisa.
“[…] se comprovadas como fake news teremos a dignidade de nos desculparmos! Mas algumas matérias fizeram acusações graves e entendemos que precisam de uma posição do CRM-AM como órgão fiscalizador!”, escreveu o presidente do Simeam.
O comentário foi rebatido por Marcus Lacerda.
O Simeam publicou a matéria cobrando fiscalização do CRM-AM sobre a pesquisa no mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que suspendeu todos os testes que coordenava no mundo sobre o uso da Cloroquina.
A decisão da OMS se deu depois de um grande estudo divulgado no renomado periódico científico The Lancet, no dia 22, que associou tratamentos com a Cloroquina a um maior risco de morte dos pacientes infectados com o novo coronavírus.
Em entrevista à CNN, na segunda-feira (25), Marcus Lacerda informou que foram suspensos em Manaus dois estudos que testavam os efeitos da Cloroquina também por conta dos resultados do estudo publicado na The Lancet.
Leia abaixo a nota do Simeam:
Diante da repercussão da matéria “SIMEAM PEDE PROVIDÊNCIAS AO CRM/AM SOBRE ESTUDO OBSCURO DA CLOROQUINA” publicada no site do Simeam www.simeam.org.br e em nossas redes sociais no dia de ontem, 25/05/2020, o Sindicato dos Médicos do Amazonas vem a público fazer alguns esclarecimentos:
1. O Simeam pediu providências ao Conselho Regional de Medicina do Amazonas – CRM/AM justamente para elucidar os fatos científicos sobre o combate e tratamento ao Covid-19. Outrossim cabe esclarecer que o CRM/AM já tinha feito uma nota no dia 17/04/20 que iria apurar as questões relacionadas a pesquisa e o SIMEAM somente no dia 18/5/20 fez a solicitação de apurar as denúncias feitas nas mídias sociais, portanto posterior ao órgão fiscalizador;
2. Em nenhum momento nós nos manifestamos contra a ciência ou aqueles que dedicam sua vida a ela. Afinal, nós acreditamos que não existe Medicina sem a Ciência. Também em nenhum momento nominamos quem quer que seja;
3. O tema em questão é objeto de debates não apenas dentre a classe médica, mas na sociedade como um todo. Ainda mais passando o mundo por uma das maiores crises sanitárias da história da humanidade. Por isso nossa preocupação é que os médicos e médicas do Amazonas tenham o maior respaldo científico possível para a prescrição de quaisquer substancias para o combate desse inimigo letal chamado Covid-19;
4. Recebemos com absoluta tranquilidade e espírito democrático a todos os questionamentos realizados por colegas médicos, em nossa página no instagram @simeamoficial, mas questionamos o porquê de alguns ataques pessoais se entendemos que o CRM/AM como entidade reguladora da profissão médica possui os meios e instrumentos para emitir opinião? Não estamos aqui contestando a existência do estudo citado, mas demandamos de um esclarecimento de nossas entidades médicas reguladoras, sobre os questionamentos de outros pesquisadores, médicos e sociedade.
5. O Simeam reafirma que repudia toda e qualquer forma de veiculação e propagação de notícias falsas, ou que ameacem a integridade de quaisquer pessoas. Nosso questionamento sobre o estudo perante o CRM/AM se deve em parte por provocações dos próprios médicos e da necessidade de termos uma decisão definitiva sobre a eficácia do medicamento pesquisado. Nesse sentido pedimos desculpas sem qualquer constrangimento se alguma das matérias referenciadas forem de fato fakenews. Pois é algo que, com certeza, não concordamos.
A entidade sindical médica do Amazonas busca com isso contribuir para que os profissionais continuem a vencer a guerra contra o Covid-19. O momento é de unirmos forças em defesa da vida de pessoas que agora sofrem com o novo coronavírus e que necessitam de meios que mitiguem e eliminem essa síndrome.
Não é com politização, erro ou dolo que vamos vencer essa guerra e fazer a vida cotidiana voltar ao seu curso normal.
JUNTOS SOMOS MUITO MAIS FORTES!!!!!!
A FMT publicou uma nota também. No texto, a Fundação lamenta o posicionamento do sindicado e pede que o Simeam leia a pesquisa antes de se embasar em sites duvidosos.
Leia a nota abaixo:
A Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) recebeu a solicitação do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam) e sugerimos que eles leiam os artigos publicados e não sejam induzidos a erro por opiniões de portais de notícias duvidosas.
Esta Fundação lamenta o posicionamento deste Sindicato que coloca em dúvida a credibilidade de uma Fundação que atua há mais de 40 anos para o bem do povo do Amazonas, com pesquisas de ponta e profissionais de renome internacional.
Diferente do que o Simeam diz, o estudo não induz a erro, mas sim corrobora com todos os estudos sérios realizados no mundo, como o maior estudo sobre o assunto, lançado no último dia 22, na revista Lancet.
A investigação, intitulado “CloroCovid-19”, foi formada por profissionais de alta qualificação, são mais de 70 pesquisadores, estudantes de pós-graduação e colaboradores de instituições com tradição em pesquisa, como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa CloroCovid-19 foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), mostrando que a pesquisa seguiu todos os parâmetros legais necessários.
Entre seus objetivos, estava a avaliação da possibilidade da cloroquina apresentar ação benéfica no tratamento da Covid-19. Apesar de ânsia por um tratamento eficaz, a pesquisa cientifica deve ser pragmática e apresentar seus resultados sem vieses ideológicos, como, de fato, foi o que aconteceu.
Neste momento de Pandemia, ideologias partidárias e egos individuais somente atrapalham o andamento da ciência.
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