MANAUS – Em entrevista à CNN, na segunda-feira (25), o pesquisador e infectologista Marcus Lacerda informou que foram suspensos em Manaus dois estudos que testavam os efeitos da Cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19.
A decisão, segundo o pesquisador, ocorreu após a divulgação de um estudo publicado no renomado periódico científico The Lancet, no dia 22, que associou tratamentos com a Cloroquina a um maior risco de mortes dos pacientes infectados com o novo coronavírus. Com base na mesma publicação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também suspendeu, no dia 25, testes que realizava com o medicamento em vários países.
“Isso levantou uma série de discussões sobre os estudos que estão em andamento. Nós aqui em Manaus interrompemos dois dos estudos que estavam acontecendo. E a OMS, que tem um grande estudo, que é o Solidarity, fez uma interrupção para avaliar então os pacientes que foram incluídos até aqui, e a partir dessa pré-análise eles vão decidir se vale à pena ou não fazer a inclusão de novos pacientes no mundo inteiro, inclusive no Brasil que é um dos partidos que participam do estudo Solidarity da OMS, coordenado pela Fiocruz”, declarou Marcus, que é pesquisado da Fundação de Medicina Tropical (FMT), em Manaus.
Segundo Marcus, o estudo divulgado pela Lancet, que avaliou mais de 90 mil prontuários de centenas de hospitais do mundo inteiro, desapontou os pesquisadores. O infectologista disse que apesar de até o momento os testes terem demonstrado que a Cloroquina não tem efeito nenhum contra a doença, ainda se acreditava que se pudesse chegar a um resultado positivo.
“Desde a semana passada, com a saída desse trabalho da Lancet, foi um trabalho chamado de Vida Real, então de fato eles revisaram prontuários de mais de 600 hospitais no mundo, nos seis continentes, e trouxeram uma informação que nos deixou desapontados com relação ao uso da medicação, lembrando que isso foi feito em pessoas hospitalizadas, e eles mostraram que há uma chance de que a Cloroquina ou a Hidroxicloroquina tenha matado até 40% mais de pessoas [do] que [as que] não usaram a droga”, disse Marcus.
“Então a gente realmente ficou preocupado porque até então as evidências que nós tínhamos de que a Cloroquina, nesses pacientes hospitalizados, não funcionava. Mas hoje a gente tem aí a possibilidade de que além de não funcionar , a Cloroquina também possa causar mais dano. É essa a precaução que os pesquisados estão tendo agora”, declarou o pesquisador.
Um dos estudos com Cloroquina realizados em Manaus, do qual Marcus faz parte, acontece no hospital Delphina Aziz, que é a unidade de referência para tratamento da doença no Amazonas.
O Amazonas atingiu na segunda-feira a marca de 30,2 mil casos de Covid-19 e 1.781 mortes.
Assista a entrevista com Marcus Lacerda à CNN aqui.
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