MANAUS – O Amazonas contabiliza 25.367 casos confirmados de Covid-19 até esta quinta-feira (21) em 60 municípios, quase metade na capital. Envira e Ipixuna, da microrregião do Juruá, são os únicos municípios do Estado que ainda não têm confirmações.
As gestões municipais atribuem isso às ações que vêm desenvolvendo e às barreiras sanitárias para evitar a chegada do SARS-CoV-2 nas cidades e comunidades.
Separados por Eirunepé (que tem 46 casos confirmados), os dois municípios atuaram precocemente na prevenção, com barreiras em seus acessos, afirmam o prefeito Ivon Rates, de Envira, e secretária de Saúde Alcliene Lopes, de Ipixuna. Os dois foram ouvidos pelo ESTADO POLÍTICO na manhã desta quinta-feira (21).
Envira
“Aqui, em Envira, por exemplo, nós não usamos o aeroporto para outro fim que não seja de cargas essenciais. Essas cargas só seguem viagem depois de higienizadas”, observa Rates.
“Desde o início da pandemia no Brasil, quem chegava na cidade, mesmo quando o aeroporto estava aberto, tinham seus sinais vitais medidos e era posto em quarentena”.
Mais de 700 pessoas entraram em quarentena até agora. “Uma equipe grande de médicos, de enfermeiros, de técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde ficam monitorando”, disse.
A decisão de agir preventivamente em Envira levou em conta a baixa capacidade de atendimento na média complexidade no município. O hospital local tinha apenas 20 leitos até o início do ano. Hoje, com o aluguel de um hotel para funcionar como anexo, a capacidade foi ampliada para 90 leitos, sendo 10 exclusivos para casos de Covid-19.
“Nós instalamos barreiras sanitárias não com a finalidade de proibir entrada das pessoas, nós aqui não tomarmos nenhuma atitude no sentido de vedar qualquer coisa. Nós temos conseguido estabelecer o diálogo com o povo e as recomendações têm sido, por grande parte da população, obedecidas”, relata o gestor.
A distância em relação à capital (1,2 mil quilômetros) não é considerada por Ivon Rates como a principal condição para que Envira não tenha registrado o vírus.
“Outros municípios distantes de Manaus também tiveram. Aqui nós temos um fluxo muito grande de pessoas entre Envira e Eirunepé, Envira e Feijó, Envira e Itamaracá, Envira e Cruzeiro do Sul, e Envira e Rio Branco do Acre, que são municípios com os quais nós estamos relacionados intimamente, pela necessidade de negócios, de logística bem como por laços familiares entre a população daqui”, disse o prefeito.
“E esses municípios, todos eles estão com muitos casos. No entanto a gente não tem, Ipixuna não tem, porque a gente fez um trabalho muito sério. Quando o vírus estava chegando no Brasil, o município de Envira já estava com seu plano de contingência sendo elaborado e, a partir de um plano de contingência, a gente se pôs em prática e a prática passa obrigatoriamente pelo bloqueio sanitário, no sentido de pôr em quarentena. Quem vier de lugar com vírus circulante, é colocado em quarentena por 14 dias, no mínimo. Essa quarentena é monitorada de manhã e de tarde por profissionais de saúde domiciliarmente. Se, durante esse monitoramento, alguém demonstra algum dos sintomas compatíveis com coronavírus, é levado para uma unidade de saúde que exclusivisamos para isso”, completou.
Segundo o prefeito, se houver casos da doença na cidade, a intenção é agir de forma imediata e não deixar agravar. “Tem que ter ação já no início dos sintomas porque isso amplia e muito a capacidade dos remédios fazerem efeito”.
“Estamos num lugar onde para o agravamento nós só temos os suportes das experiências dos nossos profissionais e a cápsula Vanessa. Então, nós não podemos agravar a ponto de precisar intubar, a ponto de precisar de UTI, então a gente alugou o hotel da cidade, aparelhou o hotel. Aqui ninguém demonstra algum sintoma grave e graças a Deus todos que demonstraram sintomas estão sendo descartados (para Covid-19) porque não confirma. A gente interna e trata”.
“Nós temos três postos de saúde. Instalamos tendas na frente de todos eles e um deles nós transformamos para atenção exclusiva para quem tenha queixas com a Covid, ainda que não venha a ser, para não misturar quem supostamente tenha com aqueles que estão buscando outros serviços”, diz o prefeito.
“Então, na frente de cada unidade tem uma tenda com profissionais que recebem e fazem a triagem para passar para lugares de uso comum apenas aqueles que não têm queixas relacionadas com Covid. Quem tem queixas relacionadas com Covid já é direcionado para um outro lugar para a gente diminuir o risco de contágio”, afirma Rates.
“As medidas que Ipixuna e Envira estão adotando, ainda que porventura o vírus já tenha entrado, as medidas internas de triagem, de investigação exclusiva de determinados postos para atenção relacionada com as queixas similares ao Covid fez com que se o vírus já circulou, morreu, deixou de circular”.
“É muito valioso o esforço das equipes que estão nas barreiras sanitárias, estabelecendo essa conduta”.
A prefeitura fabricou e distribuiu 20 mil máscaras de tecido para a população. “Produzimos porque a gente tem muita dificuldade de acesso aos grandes centros para aquisição. Então, não tem máscaras para comprar e não tem máscaras para vender. A gente cobra o uso da máscara, mas nós colocamos na mão do povo gratuitamente”.
“Hoje (21) mesmo estamos realizando uma campanha nas ruas com a polícia junto, mas é pedagógica, não é para reprimir, prendendo. É uma ação da Secretaria Municipal de Saúde, coordenada pelo Comitê Gestor de Crise da Covid, com apoio das polícias Civil e Militar e de conselheiros tutelares. Visa orientar a população quanto ao uso das máscaras e das medidas necessárias à prevenção. Quem não estiver com máscara na rua vai ter que voltar para casa pegar sua máscara, é assim”.
Ipixuna
A secretária municipal de Saúde de Ipixuna, Alcliene Lopes, credita a ausência de casos de Covid-19 no município ao fato de terem montado barreiras sanitárias ainda em março.
“Aqui, em Ipixuna, nós estamos com barreira no Alto Juruá, que é onde dá acesso ao Acre, a Cruzeiro do Sul, que tem vários casos. E a gente está monitorando todo mundo que entra no município. Para entrar no município tem que seguir os nossos protocolos, ficar de quarentena 14 dias em Cruzeiro e, quando chega aqui, fica mais 14 dias de quarentena, sem contato”, disse a secretária.
A exemplo de outros municípios, a Prefeitura de Ipixuna decretou o uso obrigatório de máscaras e, segundo Alcliene, toda a população está aderindo à medida.
“Diminuiu o fluxo de pessoas nas ruas, só saem quando há necessidade. Foram fechados os bares. Só estão funcionando os serviços essenciais e os outros estão aderindo à entrega a domicílio. Dentro do possível, estamos levando uma vida normal”.
“As mercadorias que chegam no município por via fluvial ou por via aérea são dedetizadas no aeroporto, os barcos são dedetizados. Eu acredito que o isolamento social e as barreiras que a gente montou têm dado resultados”.
Pias foram instaladas nos pontos principais da cidade e na casa lotérica há álcool em gel para os usuários. “Está chegando muito dinheiro dessa ajuda do governo federal. Como só tem uma casa lotérica, a gente fez demarcação no local para as pessoas ficarem distantes umas das outras e usando máscaras, tem uma fiscalização para ver se as pessoas estão usando máscaras”.
Os casos suspeitos do município são de pessoas que não tiveram nem sintomas. “São pessoas que vieram de fora, de cidades com casos positivos. A gente testou essas pessoas por medidas de segurança, mas tudo deu negativo”.
A educação em saúde também está funcionando, afirma a secretária. “As pessoas aqui seguem as recomendações que damos. Elas assistem o que está acontecendo em outros locais na televisão e estão com medo. Se você disser tem que ficar em casa, senão você vai pegar, então o povo fica mesmo”, assegura.
“A gente vai segurar aqui até onde der, até porque nossa maior preocupação é que a gente não tem estrutura para cuidar de um paciente grave. E até a gente pegar um paciente grave trazer uma UTI aérea para levar o paciente até Manaus ou até Cruzeiro do Sul ou Rio Branco, esse paciente vai a óbito. Então a gente preferiu segurar pela questão da prevenção do que a gente se vê numa situação dessa. Graças a Deus até agora está funcionando”, concluiu.