MANAUS – Falando pela primeira vez com a imprensa sobre a operação Maus Caminhos, o pré-candidato ao Governo do Estado, senador Omar Aziz (PSD), disse nesta quinta-feira (5) não ser primo do empresário e médico Mouhamad Moustafa, preso durante na operação e acusado de liderar o grupo que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), desviou mais de R$ 110 milhões da saúde pública do Amazonas.
“Não tenho nada a ver com a Maus Caminhos. Não sou parente do Mouhamad, ele não é meu primo. Nem na quinta geração nós temos parentesco”, disse o senador durante coletiva de imprensa, em Manaus, onde oficializou sua pré-candidatura a governador do Amazonas.
Em interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, Mouhamad aparece se referindo a políticos e parentes do senador como “primo”. Como na interceptação abaixo, retirada de um trecho da primeira denúncia apresentada pelo MPF no caso, em 2016:
No seguinte diálogo (índice 14864452 – Doc. 5), o próprio MOUHAMAD esclarece que utiliza
contratos de gaveta para camuflar a propriedade de aeronaves:
“MOUHAMAD: É… o LEARJET eu posso… aí que que eu vou fazer… eu ia sair dum avião… eu ia sair de 2
aviões na verdade… o CITATION II (CESSNA CITATION II), que é mais ou menos 1 (milhão) de dólar…
entendeu? que é o que eu tenho UTI aérea hoje… e eu ia sair da sociedade lá daquele meu XLS… que é
o… que é o… o lá de MANAUS, o TRJ, né… (refere-se ao avião de matrícula PRTRJ)
SANTIAGO: Anram…
MOUHAMAD: Aí eu saio dele… aquele lá ele é 60% meu. E o resto lá é do meu primo lá, do político, e mais
um outro cara lá dono do SBT, entendeu? Aí que que eu ia fazer… eles vão assumir a parte, entendeu? Ia
entrar um outro cara aí junto… me pagava os meus 60% dele… e é o mesmo cara que eu tô negociando o
LEARJET lá nos ESTADOS UNIDOS, entendeu?
Em depoimento à Polícia Federal e ao MPF, a enfermeira Jennifer Nayara, presa na operação e que fez acordo de delação premiada, contou que Mouhamad dizia ser primo do senador. Segundo Omar, assim como índio costuma se dirigir aos demais por “parente”, árabe tem o hábito de chamar os outros de “primo”. “Da mesma forma que índio chama índio de parente, árabe tem mania de chamar qualquer um de primo. O Mouhamad não é meu parente”, declarou Omar.
De acordo com o senador, não faz sentido insinuar que ele se beneficiou do esquema pelo qual Mouhamad é acusado de ter dirigido. Isso porque, segundo Omar, o contrato do médico com o governo dele foi “irrisório”. “No meu governo ele teve um contrato irrisório, se fosse para ter sido beneficiado, teria sido nos 4 anos que fiquei como governador”, disse Omar.
“Se alguém achar algum grau de parentesco do Mouhamad comigo eu renuncio o meu mandato de senador, não é nem o de pré-candidato. Ele não é meu parente. As lógicas aparecem no tempo de Deus, quem está na cadeia conta qualquer coisa. Eu não tenho nenhum tipo de investigação. E não estaria aqui expondo meus aliados se tivesse”, sustentou o pré-candidato a governador. / J.A. e L.P.