MANAUS – O índice de queda nos sepultamentos e de internações por Covid-19 na capital amazonense não é motivo para comemorar, tampouco significa o início do fim da pandemia na cidade. Caso as medidas de distanciamento social não sejam mantidas, há risco de um novo pico de casos da doença em junho, que pode ser ainda maior que o registrado em abril.
A avaliação é do pesquisador Alexander Steinmetz, do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Segundo o doutor, as medidas de distanciamento tomadas até aqui em Manaus, embora tenham tido a adesão de apenas 40% da população, evitaram a morte de pelo menos 2,5 mil pessoas.
Steinmetz faz parte do grupo de cientistas que produziu o estudo “Curva Epidemiológica da Covid-19 em Manaus”, solicitado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), e que teve colaboração de professores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de São João del-Rei (UFSJ-MG).
O estudo, com dados atualizados até o dia 11, foi apresentado ao Comitê de Crise e ajudou na tomada da decisão do governo de ampliar as medidas de restrição de circulação de pessoas até o fim deste mês. Os dados foram apresentados ao público nesta segunda-feira (18) em “live” nas redes sociais do governo, com Steinmetz e a diretora-presidente da Fapeam, Márcia Perales.
A pesquisa leva em conta a taxa de letalidade em relação à estimativa de pessoas infectadas (0,75%) e o tempo médio entre a exposição ao vírus e o óbito (18 dias). Os pesquisadores estimaram em cerca de 85 mil o número total de infecções ativas pelo novo coronavírus, em Manaus, até o dia 11.
O número estimado de pessoas infectadas que ainda estão em período de transmissão, diz Steinmetz, não é seguro dizer que a epidemia está controlada e para garantir a reabertura das atividades em Manaus.
“Eu não sei se a gente pode falar de um controle se a gente tem 85 mil infectados ativos nesse momento em Manaus que são capazes de espalhar a doença. Então, a gente não pode falar de controle, na minha visão. É uma situação de alerta máximo, na verdade, e esperamos que essa guerra, de fato, continuem nas próximas semanas”, disse.
“Sobre Manaus, pico, a gente teve de fato uma subida, um pico, um pequeno nivelamento, e uma pequena queda no início de maio. Mas, isso representa de certa forma um pico artificial. A gente conseguiu nivelar e ter essa queda graças a todas essas medidas de distanciamento social e uso de máscaras. Se a gente afrouxar, a gente pode ver o verdadeiro pico, aquele que estaria muito mais acima. E a gente poderia ver esse verdadeiro pico em junho, com muito mais óbitos e muito mais casos, infecções. Então, é um pico, tipo artificial (o de abril), que a gente conseguiu essa queda só por causa das medidas que foram tomadas”, afirmou.
Para ele, há um risco concreto de um segundo pico caso haja o afrouxamento. “Se a gente for afrouxar as medidas, um segundo pico é essencialmente inevitável. A gente vai ter um segundo pico se a gente for afrouxar agora. Ele pode ser pior do que aquele em abril, sem dúvida”, disse.
A queda de óbitos na primeira quinzena de maio, avalia o cientista, é uma “pequena luz no final do túnel” que se deve em parte ao distanciamento social. Mesmo com a adesão limitada, teve um efeito. A gente teve um abril muito duro, mas mesmo assim podia ser bem pior”.
“Se a gente não tivesse começado a usar máscaras, a gente poderia ter visto uma situação bem pior ainda, a gente viu 1.500 óbitos a mais, em abril, do que o normal. Se a gente não tivesse tomado as medidas, a gente poderia ter visto facilmente ainda mais 2.500 óbitos em abril. Então, as nossas medidas, salvaram 2.500 vidas, no mínimo. Essa foi uma simulação que a gente fez só para mostrar a eficácia, mesmo com um distanciamento limitado, a eficácia que teve”, finalizou.
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