Por Janaína Andrade|
MANAUS – Questionado sobre o novo decreto do Governo Bolsonaro que zera a alíquota de IPI do polo de concentrados prejudicando a Zona Franca de Manaus (ZFM), o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), disse na manhã desta segunda-feira, 1º, que não pode concordar com “um governo de burros”.
“Na quarta-feira (27 de julho), ele (Bolsonaro) libera uma licença ambiental da BR-319, aí tem tanta gente burra do lado dele que na sexta-feira (29), ele zera o IPI dos concentrados. O que ele ganha na quarta ele perde na sexta. Eu não posso concordar com um governo de burros. Essa é a realidade. Eu queria estar podendo elogiar o Bolsonaro, eu queria estar pedindo voto para o Bolsonaro, eu queria estar dizendo que ele está ajudando a cidade de Manaus, mas ele está maltratando a gente. Ele está tirando empregos”, disse David.
A declaração do prefeito de Manaus foi dada em coletiva à imprensa sobre o lançamento do programa ‘Manaus Esportiva’.
Desde que iniciou seu governo, Bolsonaro vem colecionando uma série de ataques à Zona Franca de Manaus. Em 28 de maio deste ano, na sua participação na “Marcha para Jesus” em Manaus, o presidente deixou claro que, no que depender dele, o governo federal não vai recuar um centímetro das decisões que tomou para reduzir a carga tributária da indústria nacional e que, por tabela, afetam a Zona Franca de Manaus. Na ocasião, Bolsonaro tinha ao seu lado o governador
Wilson Lima e David.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes suspendeu, liminarmente, no dia 6 de maio, os decretos de Bolsonaro que prejudicam a ZFM. A decisão suspendeu os efeitos de três decretos (11.047/2022, 11.052/2022 e 11.055/2022) sancionados pelo presidente, que impuseram medidas como estabelecer em até 35% o corte linear do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), além de zerar a alíquota do imposto relativo aos concentrados para produção de bebidas não alcoólicas.
Na sexta-feira, 29, Bolsonaro ignorou a decisão do STF e reprisou ataques ao polo de concentrados, zerando o incentivo tributário dado aos fabricantes de concentrados de refrigerantes.
Nesta segunda, David destacou ter um acordo com o governador Wilson Lima, aliado de Bolsonaro, de apoio à sua campanha à reeleição para a chefia do Executivo Estadual, mas que não defenderá e nem votará em Bolsonaro.
“Eu fui eleitor dele, o candidato eleito não pode tratar o povo com chicote. O Bolsonaro está tratando o povo do Amazonas com chicote. Quem o ajudou ele está maltratando. E eu não posso ficar calado nisso. Eu não posso concordar com um cidadão que foi eleito com 65% dos votos na cidade de Manaus e tratar tão mal a minha cidade”, declarou David.
‘Não vivo diante de um fanatismo cego’
O prefeito de Manaus disse ainda que não vive de “fanatismo cego”. “Ele ataca a gente e tem gente que aplaude. Quando faltar comida, quando faltar emprego, vão lembrar do que estou falando. Eu estou pedindo que o povo abra os olhos, não entendo o Governo Bolsonaro com relação ao Amazonas, tem tanta gente burra perto do presidente”, declarou.
“Agora, com relação ao Wilson, eu estou ao lado dele, vou caminhar do lado do Wilson. Até porque, como o Governo Bolsonaro, que ele não queira dar nada para a gente, tudo bem, beleza, é uma opção dele, agora tirar o que a gente tem e ter gente que aplaude”, completou o chefe do Executivo Municipal.
*Prefeito faz alerta a lideranças religiosas*
David disparou ainda contra políticos amazonenses que defendem Bolsonaro e fez um alerta aos líderes religiosos e seus fiéis.
“(…) tem político que se elege aqui e não fala nada contra ele. Eu quero que os pastores, os líderes evangélicos que apoiam o Bolsonaro, após a ZFM estar sendo atacada, quando a sua ovelha estiver passando fome, quando não tiver condições de trabalho para a sua família, vocês procurem os pastores, os bispos, os apóstolos que defendem essa política do Bolsonaro contra o Amazonas”, falou o prefeito.
*‘Não sou Lula e não vou apoiar o Bolsonaro’*
Sobre a decisão do candidato do Avante à Presidência da República, André Janones, de desistir da candidatura para apoiar Lula, David garantiu que não irá pedir votos para o petista e que tem autonomia dentro da legenda.
“(…) eu não sou Lula, não voto no Lula, e não vou apoiar o Bolsonaro. O Janones vai apoiar o Lula, problema do Janones, eu sou o David. Eu tenho autonomia no meu partido. Tem um ditado no Amazonas que diz o seguinte: “farinha pouca meu pirão primeiro”. E o meu pirão é a ZFM. O Bolsonaro está tirando a nossa farinha, essa é a verdade”, concluiu.