Da Redação |
O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), demonstrou nesta quarta-feira (23) que pode ter recuado alguns passos na aliança com Wilson Lima (União Brasil) para as eleições de 2022.
Além disso, indicou que ao contrário do que vinha pregando em discursos desde as eleições de 2018, está disposto – usando expressão dele mesmo – a reabrir a “cortina da história” para caciques como Amazonino Mendes (sem partido) e Eduardo Braga (MDB).
Em entrevista ao jornalista Álvaro Corado, nesta quarta-feira, David disse que, apesar da proximidade com Wilson, só decide quem vai apoiar para o Governo do Amazonas na véspera do prazo final estabelecido pela legislação eleitoral – entre 20 de julho e 5 de agosto.
“Temos [com Wilson] nesse momento uma parceria de unidade e apoiamento para Manaus. As questões partidárias e decisões com relação a apoio, isso só sai lá em junho, julho, só vai se fechar dez, quinze dias antes das convenções. No momento, tenho alinhamento com o governador, inclusive ele veio almoçar na minha casa”, disse David.
Na sequência, o prefeito de Manaus ponderou que, apesar de almoçar e compartilhar agendas de trabalho com Wilson, ainda não está convencido de que a reeleição do governador seja o melhor projeto para Manaus e o Estado.
David indicou isso quando afirmou não ter dúvida de que, antes de decidir em qual palanque vai subir, conversará com outros pré-candidatos ao governo, e citou os nomes de Amazonino e Braga.
“Vou conversar com os outros candidatos a governador, não tenho dúvida. Tenho diálogo com o senador Eduardo Braga, com o ex-governador Amazonino Mendes. Quero ouvir a melhor proposta para meu Estado, para que eu possa decidir o futuro do alinhamento político da prefeitura”, disse David.
E completou: “Estou buscando uma proposta vencedora para Manaus. Não que seja a melhor proposta para o David, mas que seja melhor para o Estado. Ainda não tenho nenhuma definição quanto ao apoio da prefeitura, do Avante, ou do prefeito, para nenhum candidato ao Senado ou ao Governo do Estado”.
’População deu um basta aos caciques’
Na virada de 2021 para 2022, David, em dobradinha com Wilson, adotava o discurso de aversão ao retorno de caciques políticos aos cargos de prefeito de Manaus e governo do Estado.
Em um dos discursos, em outubro de 2021, David disse que a ascensão dele e de Wilson aos cargos atuais era resultado do entendimento da população de que era preciso dar um basta na era dos caciques políticos no Amazonas.
“A população entendeu isso em 2018. A população abriu os olhos e começou a fechar a cortina da história para essa geração [de caciques], que já teve tempo, dinheiro e apoio político para realizar todas as transformações que uma sociedade precisa e não o fizeram. A população assim entendeu em 2018 e confirmou em 2020”, declarou o prefeito.
Em outro discurso, este em dezembro de 2021, expressando gratidão pelo anúncio de investimento de meio bilhão do Estado no município, David afirmou que Manaus saberia reconhecer o trabalho de Wilson no governo.
“O recurso que o senhor está investindo na cidade de Manaus, nada mais é do que fazer justiça, do que devolver para a cidade de Manaus aquilo que nos foi tirado no passado. Eu não vou falar nome, não vou ofender ninguém, porque a cidade de Manaus vai saber reconhecer aquele que tem estendido a sua mão para esta cidade, e vai saber também aqueles que viraram as costas e a puniram”, disse David.
‘Vice é meu’
David já externou que uma das condições para apoiar um candidato ao governo seria indicar o vice da chapa.
“Para eu apoiar um candidato vou ter que indicar o vice”, disse David em entrevista ao ESTADO POLÍTICO em novembro de 2021.
Passados quatro meses, não há indicação de que Wilson, por exemplo, tenha abrigado esse desejo de David em seu projeto de reeleição.
David tem entre os nomes para oferecer como vice os secretários Sabá Reis (Limpeza) e Shádia Fraxe (Saúde).
No mês de março, as agendas conjuntas de David e Wilson esfriaram.
Um ponto emblemático desse distanciamento foi a forma como cada um se movimentou diante da medida do governo federal de reduzir a alíquota de IPI dos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus (ZFM).
David reuniu lideranças políticas locais para tratar do assunto, entre elas figuras que têm a antipatia de Bolsonaro, como o senador Omar Aziz (PSD) e o deputado federal Marcelo Ramos (PSD), que não pouparam críticas ao presidente.
Convidado, Wilson não compareceu à reunião de David. E outros aliados de Bolsonaro, como o Coronel Menezes, criticaram as companhias do prefeito de Manaus.
O fato repercutiu negativamente no Planalto, e acabou afastando David de uma reunião entre Wilson e Bolsonaro para tratar do assunto.
É possível que o fato, entre outros, tenha desalinhado em alguma medida a relação entre os dois.
O governador do Amazonas vai tentar a reeleição com o apoio de Bolsonaro. Por isso, evita a qualquer custo desagradar o aliado do Palácio do Planalto.
Até mesmo quando foi publicado o decreto do IPI sem sequer ter sido alertado pelo presidente, Wilson calibrou o discurso.
Chegou a falar que a decisão de Bolsonaro tinha sido na melhor da intenção e que havia muita histeria local sobre as consequências da medida, mesmo admitindo seu efeito danoso para a ZFM.