MANAUS – Entidades envolvidas com a pesquisa científica no Brasil repudiaram as ameaças que pesquisadores do Amazonas vêm sofrendo nas redes sociais por causa dos resultados preliminares da pesquisa CloroCovid19, que apontou riscos da cloroquina no tratamento da Covid-19.
Entre as instituições que publicaram nota estão a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Conselho Deliberativo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
Nesta sexta-feira (17), o ESTADO POLÍTICO mostrou que o pesquisador Marcus Lacerda tem recebido ataques nas redes sociais de cunho político e ameaças de morte de entusiastas do medicamento. As ameaças estão sendo investigadas pela Secretaria de Estado de Segurança (SSP-AM) e pela Polícia Civil.
As reações
A SBV ressaltou que a primeira conclusão do estudo foi que pacientes graves com Covid-19 não deveriam mais usar a dose alta da cloroquina. Destacou que o estudo não permite em absoluto concluir que a cloroquina em doses baixas funciona ou não para Covid-19 e que o número de pacientes que morreram durante o estudo (11 de 81) está dentro da média mundial.
A entidade observa que “uma onda de reações de natureza ideológica, a partir de pessoas que provavelmente não leram o estudo na íntegra, motivou manifestações violentas de cunho pessoal ao pesquisador principal, sua família e sua equipe, o que tem desviado a atenção e o foco do trabalho realizado aqui durante a pandemia”.
“Pesquisadores não pautam suas ações por vinculações ideológicas ou partidárias e seu compromisso é apenas com a boa ciência. Somente a prática correta da ciência poderá nos salvar da atual pandemia do novo coronavírus, desta forma suplicamos, deixem os cientistas trabalharem em paz!!!”, diz a nota da SBV.
A Fiocruz afirmou que considera inaceitáveis os ataques que pesquisadores vem sofrendo. “Estudos como esse são parte do esforço da ciência na busca por medicamentos e terapêuticas que possam contribuir para superar as incertezas da pandemia de Covid-19. A pesquisa CloroCovid-19 permanece em andamento e foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep)”, destacou.
“É fundamental alertar que a busca por soluções não pode prescindir do rigor científico e do tempo exigido para obtenção de resultados seguros e que as pesquisas devem se manter, portanto, fora do campo narrativo que constrói esperanças em cima de respostas rápidas e ainda inconclusivas”, ressalta a Fiocruz.
A UEA afirmou que “repudia veementemente todos os ataques e as agressões sofridas pelos pesquisadores nos últimos dias, que se caracterizam por notícias infundadas, sensacionalistas, repletos de viés político que mostram claramente a ignorância em relação ao método científico”.
A Fapeam destacou que o momento requer prudência e respeito ao trabalho dos profissionais que se dedicam intensamente ao desenvolvimento de pesquisas no âmbito da saúde pública no combate à Covid-19, “seja no aprimoramento de processos e produtos, seja na condução de análises de diagnósticos ou seja na assistência aos pacientes para a mitigação e resolutividade dos graves problemas oriundos dessa doença”.
A SBMT ressaltou a seriedade do estudo e das instituições envolvidas. Para a entidade, “é inaceitável que os pesquisadores brasileiros estejam colocando suas vidas em risco para resolver essa pandemia sob ataques cheios de sofismas, derivações superficiais e ideológicas, sem nenhum apoio na realidade ou sob evidências científicas”.
“A SBMT ratifica seu compromisso com a ética, honestidade, respeito e não aceita ataques como os sofridos por seus membros que buscam remover a dor de outros”, conclui a nota.
A descoberta
O infectologista Marcus Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), coordena o estudo pioneiro CloroCovid-19, que identificou que uma alta dose do medicamento pode aumentar o risco de morte dos pacientes graves.
A recomendação após essa descoberta inicial é de que a dosagem alta não seja usada. A pesquisa com a dose segura do medicamento, no entanto, continua em andamento.
Na quarta-feira (15), em “live” do governo, Lacerda alertou ainda que o uso preventivo (profilático) da cloroquina também tem levado à piora de pacientes com o quadro ainda menos grave.
Segundo Lacerda, o estudo ainda não permite concluir que uma dose baixa de cloroquina funciona ou não para a Covid-19.
Mais de 70 cientistas participam do estudo que envolveu, até agora, 81 pacientes em estado grave internados no Hospital Delphina Aziz, em Manaus. Além, da FMT-HVD, integram o grupo pesquisadores da UEA, da Fiocruz e da Universidade de São Paulo (USP).
Ataque federal
Ainda na sexta-feira, pela manhã, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro (que defende o uso do medicamento), publicou um tweet atribuindo à pesquisa do Amazonas a responsabilidade pela morte de 11 pacientes.
Ele expôs preferências partidárias dos cientistas ao tentar desqualificá-los.
FMT-HVD defende pesquisa
Em nota, antes do post de Eduardo Bolsonaro no Twitter, o diretor-presidente da FMT-HVD, Marcus Vinicius de Farias Guerra, repudiou publicações que deturparam os resultados preliminares da pesquisa – algumas afirmaram que o estudo foi responsável por morte de pacientes.
“A Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) recebe com extrema indignação e perplexidade as publicações apócrifas de matérias sensacionalistas, desprovidas de realidade e conhecimentos técnicos sobre a pesquisa CloroCovid19”, afirmou Vinitius.
Na nota, ele ressaltou que este, como todo estudo de saúde, foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do SUS (Sistema Único de Saúde).
“As publicações são preconceituosas e claramente desprovidas de conhecimentos da metodologia científica. É pejorativo o uso do termo ‘cobaias’. Todos os participantes de ensaios clínicos assinam termos de responsabilidade e estão cientes dos riscos”, observou.
Os pequisadores estao certos os politicos tem e que ajuda financeirmente