MANAUS – Preocupado com a falta de adesão da população à recomendação de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus, o prefeito do município de Carauari (AM), Bruno Ramalho (MDB), tem adotado um discurso “sem meias palavras”, como ele mesmo define, para convencer os 28,2 mil carauarienses da gravidade da situação pela qual passa o mundo por conta da Covid-19, em especial o Amazonas.
Trecho de um dos seus alertas à população, que ocorrem com frequência em uma emissora de rádio da cidade, chamou a atenção essa semana, viralizando em mensagens de Whatsapp.
Na fala, que o prefeito afirma reproduzir apenas um trecho de seu apelo aos moradores, Bruno adverte aos carauarienses desobedientes de que a prefeitura tem feito esforços para controlar a doença, mas, “se quiserem ficar na rua, levando a coisa na molecagem”, o município dispõe também de caixão, inclusive urnas funerárias revestidas com folhas de zinco.
Leia abaixo a íntegra da fala do prefeito que chamou a atenção:
“Quanto mais vocês ficarem em casa, melhor vai ser para o município fazer esse controle. Mas se não quiserem ficar em casa, quiseram ficar na rua, quiserem ficar levando a coisa na molecagem, a gente trouxe caixão também. A opção é sua, irmão. Trouxemos caixão, urna zincada. Morreu a gente bota dentro de um saco, dentro da urna zincada, solda, bota em um caixão, e manda levar para o cemitério. Só vai poder acompanhar três pessoas da família e não tem velório.”
Abaixo, o áudio como tem sido compartilhado:
Em entrevista ao ESTADO POLÍTICO, neste sábado (18), o prefeito se disse preocupado com a população. Segundo ele, a exemplo de Manaus, os moradores de Carauari seguem nas ruas. E a situação foi agravada com o início do pagamento do Auxílio Emergencial, ação de complementação de renda do Governo Federal.
“A gente tenta colocar, coloca guardas municipais, mas às vezes, muitas pessoas, que não têm nenhum tipo de atrelamento àquele recebimento se mistura lá com as pessoas, e causa aquelas aglomerações”, disse o prefeito. O município registrou até aqui 1 caso de Covid-19. A vítima, um senhor de 72 anos, faleceu, disse Bruno.
O prefeito diz que tem dois leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 4 de semi-intensiva. Ele teme que em uma situação de proliferação da doença na cidad, não consiga atender todos que precisarem. Há mais casos em investigação no município.
“Para mim seria o maior vexame acontecer aqui o que a gente está vendo no João Lúcio (hospital localizado na capital do Estado, que sem espaço suficiente, acondicionou por algumas horas corpos no mesmo ambiente em que estavam pacientes internados)”, disse o prefeito.
O Estado do Amazonas centralizou o atendimento de pacientes graves de Covid-19 na capital. Casos desse tipo identificados no interior são transferidos para Manaus por meio de UTI aérea contratada pelo governo.
Uma das transferências do interior para a capital realizadas até aqui foi de Carauari. O paciente foi internado em Manaus, mas não resistiu à doença.
Questionado se tinha mesmo comprado caixões para o caso de uma disseminação fora de controle na cidade, resultando em mortes, como diz no áudio, Bruno disse que sim.
“Claro. Não vou esperar as coisas acontecerem para só depois tomar providências. Não vou enterrar o cara em caixão de madeira comum”, disse o prefeito.
“Sempre fui muito positivo. Não gosto de meias palavras”, afirmou Bruno. O prefeito está no 4º mandato. Segundo ele, a cidade tem investido na compra de equipamentos, no treinamento de profissionais de saúde, em ações de desinfecção de ruas e de educação em saúde. No entanto, reclama ele, sem a colaboração da população, nada disso adiantará.
“Se em países desenvolvidos está acontecendo o que estamos vendo, imagina aqui”, afirmou o prefeito, que diz ir a cada dois dias para o rádio apelar para a população se conscientizar sobre a gravidade da pandemia.
O Amazonas tem 1,8 mil casos de Covid-19.