MANAUS – Artistas da cena rock underground de Manaus realizam no próximo dia 21 a versão local do Facada Fest, festival de música paraense criado em 2017, que é alvo de um inquérito autorizado pelo ministro Sergio Moro (Justiça) por suposta apologia à violência contra o presidente Jair Bolsonaro.
Como no festival do Pará, o cartaz da edição local também faz referência ao presidente: a cabeça de Bolsonaro está em uma bandeja segurada por uma indígena, enquanto quatro mãos direcionam facadas a ele, que está com um bigode similar ao de Adolf Hitler. O tom do festival também é o mesmo, de crítica às políticas do governo.
Um dos organizadores do festival e dono do Bar do Braga (na rua Belo Horizonte, 636, Adrianópolis), que sedia o evento, Luciano Felipe disse ao ESTADO POLÍTICO que o Facada “é uma forma de dar um grito contra os abusos do governo”. “Não tem nenhuma conotação de violência”, ressaltou.
“A gente está vivendo um momento muito conturbado em nosso país. E esse evento é uma forma de protestar contra tudo o que o governo tem feito contra a gente, contra a população, os desmandos, as reformas ineficazes. Tem todo um contexto e não a questão da facada que o presidente levou, mas sim é um grito de liberdade para as pessoas que querem criticar o governo, de expressão do pensamento”, afirmou Luciano.
A edição manauara também é uma forma de prestar solidariedade ao Facada Fest paraense, que autorizou o uso do nome. Questionado sobre temor quanto a uma possível ação policial como aconteceu no festival no Pará, Luciano disse que os organizadores entendem que estão se arriscando a possíveis retaliações do governo e dos eleitores bolsonaristas. “Mas estamos preparados para lidar com isso”, disse.
Além das bandas de rock, o evento terá declamação de poesias de crítica social e também arrecadará alimentos não-perecíveis para uma instituição assistencial ainda a ser definida.
Inquérito
No último dia 27, organizadores da terceira edição do Facada Fest em Belém prestaram depoimentos no âmbito do inquérito aberto em 2019. No inquérito, os cartazes são os principais objetos de análise, por possuírem supostas referências de teor violento.
O pedido de investigação foi solicitado pelo Instituto Conservador de São Paulo e autorizado pelo ministro Sergio Moro.
Em um dos cartazes utilizados para a divulgação em Belém, há um personagem representado pelo palhaço Bozo, que aparece empalado por um lápis, e vestindo a faixa presidencial com o número “171”.
Em outro cartaz para divulgar o festival em Marabá, o personagem central da peça aparece vomitando fezes sobre uma floresta, com bigode semelhante ao do ditador Adolf Hitler, usando uma cueca com a bandeira americana e de arma na mão.
No depoimento prestado à Polícia Federal na semana passada, os artistas disseram que o lápis empalhando o palhaço Bozo não tem relação com a facada que atingiu Bolsonaro em 2018. O cartaz, disseram, representa o momento pelo qual o Brasil estava passando na época, criticando os cortes de gastos na educação e protestando contra a violência.
Durante a campanha eleitoral de 2018, o então candidato Bolsonaro foi vítima de uma facada em Minas Gerais. Mas, o coletivo Facada Fest utiliza o nome desde 2017, quando foi criado.
No Twitter, o ministro Sergio Moro negou que a iniciativa do inquérito tivesse partido dele, mas admitiu que concorda com a investigação. Moro disse ainda na rede social que o conteúdo dos cartazes não é uma simples crítica.
Nas redes sociais, a organização criticou a repressão a um festival de música, enquanto o país passa por diversos outros problemas, como degradação ambiental da Amazônia e relação entre políticos e milicianos. O coletivo afirmou que respeita a Constituição e defende o direito à atividade artística e à liberdade de expressão.