MANAUS – O ex-arcebispo de Manaus e administrador apostólico da Arquidiocese de Manaus, Dom Sergio Castriani, divulgou na segunda-feira, 13, uma carta aberta, onde pede ao governador Wilson Lima (PSC) que revogue a decisão de transformar a Escola Estadual Tiradentes, localizada no bairro Petrópolis, em um colégio da Polícia Militar.
Na carta, Dom Sergio pede ainda que o governador converse com a comunidade sobre a medida.
“Esta decisão foi simplesmente comunicada aos professores e pais de alunos. Como conseqüência, eles serão alocados em escolas dos bairros vizinhos. Como se trata da vida de mais de mil estudantes, pode imaginar o transtorno. Mas o que talvez seja mais importante é a função social que esta escola exerce no bairro”, declara Castriani em trecho da carta.
A medida vem sendo alvo de protestos de alunos e pais e já há uma Ação Civil Pública ajuizada pelo MP-AM (Ministério Público do Estado do Amazonas) junto à Justiça Estadual.
“No futuro, uma escola cívico-militar poderá formar bons cidadãos, mas que não terão ligação com o bairro. Petrópolis deve muito de sua coesão comunitária que está sendo posta à prova, à Escola Tiradentes. Marque uma conversa com o povo. Não tenha receio de se expor. São todos gente boa, que participa de uma comunidade, respeitadores das autoridades. Escute os argumentos das mães de família que são as grandes responsáveis pela educação das nossas crianças. Pergunte à juventude o que ela pensa desta história”, diz Dom Sergio em outro trecho da carta.
Segundo Dom Sergio, a Escola Estadual Tiradentes possui tradição e “carrega em si a história do bairro”, tendo assistido a ordenação sacerdotal de um dos padres da arquidiocese. Para ele, as autoridades da Seduc (Secretaria de Estado da Educação) responsáveis por essa decisão são pessoas “competentes”, mas há “situações humanas, antropológicas e culturais”, que, lhe parecem, não foram levadas em conta.
“Vereadores e profissionais de toda ordem são ex-alunos. Num país onde a memória histórica é tão fraca, vale a pena conservar o que se tem. Decisões desta natureza não podem ser puramente técnicas”, declara o bispo.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a Seduc informou que a comunidade do bairro Petrópolis foi comunicada sobre a medida em reunião realizada no dia 23 de dezembro de 2019.
“Na ocasião foram explicadas as possibilidades e ajustes das necessidades. A mudança já era estudada pela secretaria, mas foi acelerada devido a necessidade de atender a demanda da escola que está sem ter para onde ir (o anexo do CMPM 1)”, diz a Seduc em trecho da nota.
Abaixo, a nota da Seduc:
Segue abaixo resposta da Secretaria a sua solicitação:
A necessidade de reordenamento da Escola Tiradentes foi comunicada à comunidade em uma reunião realizada no dia 23 de dezembro de 2019. Na ocasião foram explicadas as possibilidades e ajustes das necessidades. A mudança já era estudada pela secretaria, mas foi acelerada devido a necessidade de atender a demanda da escola que está sem ter para onde ir (o anexo do CMPM 1).
Com a mudança, a escola vai atender sua capacidade total de estudantes, que é de 3 mil. Em 2019, por exemplo, a unidade somou 1 mil alunos. Além disso, a Secretaria garante a economia de mais de R$ 1 milhão no aluguel anual de um imóvel.
Há um processo de reordenamento que é tornar a escola somente da modalidade Ensino Fundamental e militar, deixando de oferecer o Ensino Médio, o que é comum e já aconteceu em outras escolas da rede estadual. Um exemplo é a Escola Estadual Djalma Batista, em frente à Ufam, que hoje é de Tempo Integral, bilíngue, atende somente Ensino Fundamental e é considerada uma das melhores unidades de ensino da rede estadual. Antes, ela atendia Ensino Médio e não tinha tempo integral.
Estão sendo ofertadas 240 vagas para alunos dos 7º, 8º e 9º anos que quiserem permanecer na escola. Os estudantes de Ensino Médio diurno e aqueles que não quiseram ficar na unidade por conta do novo modelo puderam optar por escolas dos bairros Petrópolis, Cachoeirinha, São Francisco, Japiim, Betânia e Crespo, que dispõem de 1.825 vagas no Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio. A Seduc está garantindo vagas nessas escolas. Os alunos do turno noturno já estão matriculados na Escola Major Silva Coutinho, a 900 metros da antiga escola.
Atenciosamente,
Abaixo, a íntegra da carta de Dom Sergio:
Carta aberta
Ao Senhor Governador do Estado do Amazonas
Wilson Lima
Vossa Excelência,
Sei que a agenda de um governador é pesada e o número de decisões a serem tomadas ultrapassa o limite do razoável, e é humano que algumas sejam equivocadas. Queria então colocar diante do senhor, uma decisão tomada pelo seu governo e pedir que ela seja revogada. Faço isto em carta aberta, porque o intuito é o de ajudar a colocar as pessoas a par do que estamos pensando.
Trata-se do futuro da escola Tiradentes, do bairro de Petrópolis, que deverá ser desocupada para que uma outra unidade de ensino se estabeleça aí onde está há décadas. Esta decisão foi simplesmente comunicada aos professores e pais de alunos. Como conseqüência, eles serão alocados em escolas dos bairros vizinhos. Como se trata da vida de mais de mil estudantes, pode imaginar o transtorno. Mas o que talvez seja mais importante é a função social que esta escola exerce no bairro.
Tradicional, ela carrega em si a história do bairro. Seus pátios assistiram até a ordenação sacerdotal de um de nossos padres. Vereadores e profissionais de toda ordem são ex-alunos. Num país onde a memória histórica é tão fraca, vale a pena conservar o que se tem.
No futuro, uma escola cívico-militar poderá formar bons cidadãos, mas que não terão ligação com o bairro. Petrópolis deve muito de sua coesão comunitária que está sendo posta à prova, à Escola Tiradentes. Marque uma conversa com o povo. Não tenha receio de se expor. São todos gente boa, que participa de uma comunidade, respeitadores das autoridades. Escute os argumentos das mães de família que são as grandes responsáveis pela educação das nossas crianças. Pergunte à juventude o que ela pensa desta história.
Decisões desta natureza não podem ser puramente técnicas. Tenho certeza que as autoridades da SEDUC, que chegaram a uma tal decisão são pessoas sérias e competentes. Mas existem situações humanas, antropológicas e culturais que, me parece, não foram levadas em conta.
Aproveito para expressar toda a estima e consideração que tenho pelo senhor e seu governo.
Dom Sergio Eduardo Castriani
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Manaus
A reportagem diz que a comunidade foi comunicada dia 23/12/2019. NÃO É VERDADE!
A reportagem diz que a comunidade foi comunicada em reunião, dia 23/12/2019. NÃO É VERDADE! TAL REUNIÃO NUNCA HOUVE! Outra coisa. Também NÃO HÁ VAGAS NAS ESCOLAS PRÓXIMAS conforme é afirmado. Os responsáveis pelas crianças vão às referidas escolas e são informados que NÃO HÁ VAGAS! Também se menciona 1.000 alunos. São 1.800. São dados incorretos. Está é a única escola de ensino médio do bairro, com 45 anos de história. Os professores, funcionários e alunos estão sendo expulsos!
A reportagem diz que a comunidade foi comunicada em reunião, dia 23/12/2019. NÃO É VERDADE! TAL REUNIÃO NUNCA HOUVE! Outra coisa. Também NÃO HÁ VAGAS NAS ESCOLAS PRÓXIMAS conforme é afirmado. Os responsáveis pelas crianças vão às referidas escolas e são informados que NÃO HÁ VAGAS! São 1.800 alunos e não 1.000. Alunos, professores e funcionários estão sendo expulsos!
A Seduc mente quando diz que a comunidade foi comunicada em uma reunião no dia 23/13/2019. Nunca houve nenhuma reunião com a comunidade. Pelo contrário, a Seduc não recebeu os representantes da comunidade e nem buscou sequer um diálogo com as partes interessadas.
A Seduc mente quando diz que a comunidade foi comunicada em uma reunião no dia 23/12/2019. Nunca houve nenhuma reunião com a comunidade. Pelo contrário, a Seduc não recebeu os representantes da comunidade e nem buscou sequer um diálogo com as partes interessadas.