MANAUS – Em coletiva na manhã desta quinta-feira (28), os advogados de Alejandro Molina Valeiko, um dos indiciados no inquérito sobre a morte do engenheiro Flávio Rodrigues, desqualificaram o trabalho dos delegados da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) da Polícia Civil do Estado do Amazonas (PC-AM).
Segundo Felix Valois, um dos advogados de Alejandro, o cliente só está preso e foi indiciado porque é enteado do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB).
“Este inquérito não teria chegado a essa conclusão se o Alejandro não fosse enteado do prefeito de Manaus. Só por isso ele está sofrendo essa perseguição. Está no momento da Justiça encerrar definitivamente esse tipo de comportamento persecutório que acaba transformando uma prisão absolutamente desnecessária em uma prisão política”, disse Valois.
Alejandro foi indiciado por homicídio, por omissão. Ou seja, a polícia entendeu que o filho da primeira-dama de Manaus, Elisabeth Valeiko, podia evitar a morte de Flávio, no dia 29 de setembro. Segundo Valois, o homicídio por omissão só encontra respaldo na legislação quando o apontado como autor tenha o dever, por lei, de proteger ou vigiar a vítima, o que não seria o caso.
“Esperamos que o Ministério Público, para quem agora é encaminhado esse inquérito, chegue à realidade jurídica, e nem sequer denuncie o Alejandro por qualquer desses crimes. Porque, tecnicamente, a vinculação do Alejandro à morte do Flávio, me perdoem a ênfase da linguagem, é uma tolice jurídica”, declarou Valois.
No relatório do inquérito enviado ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), no dia 26, os delegados Paulo Roberto Sobral Martins (titular da especializada em Homicídios e Sequestros – DEHS) e Marília Campello Conceição, delegada adjunta da DEHS, afirmam que Alejandro mentiu na primeira declaração à polícia, quando disse não reconhecer que quem entrou na casa dele, na noite do dia 29 de setembro, era o policial militar, Elizeu da Paz, seu segurança e de sua família.
Segundo os delegados, somente mais tarde, já na condição de investigado, Alejandro diz, em depoimento, que mesmo com o policial com o rosto coberto, reconheceu a voz e os traços físicos de Elizeu. Também em depoimento, Vitorio Del Gatto, outro indiciado no caso, de acordo com o relatório, disse ter ouvido do enteado do prefeito de que foi o PM que entrou na residência, o agrediu com coronhadas, e saiu do local levando o engenheiro em um carro, acompanhado de outra pessoa (Mayc Vinícius Parede).
Questionados sobre esse ponto, os advogados negaram que o cliente tenha mentido na primeira declaração à polícia. Disserem que sua primeira manifestação na delegacia sobre esse ponto foi espontânea, e que sequer tinha sido questionado na ocasião se reconhecia as duas pessoas que entraram na casa naquela noite.
Segundo outro advogado de Alejandro, Marco Aurélio Choy, o cliente, já nesse primeiro momento, não tinha certeza de ser Elizeu, e que também tinha receio de acusar o PM. De acordo com os advogados, apesar de servir a família do prefeito, o policial despertava medo no cliente deles.
“É algo que qualquer cidadão comum poderia cometer. Acho que esse fato não coloca uma conduta criminosa a ele. E ao mesmo tempo não dá a ele qualquer participação [no crime]”, declarou Choy.
Animosidade
“Existia uma situação de animosidade entre Alejandro e o PM. Isso é muito fácil de perceber. Porque ao que tudo indica, o trabalho dele [Elizeu] era controlar todas aquelas situações em que o Alejandro se colocava. E esse fato ocorreu em um domingo, em um horário que não deveria ser o correto do expediente, estava em uma festa, já tinha ligado para ele desde cedo, e o Alejandro estava lá naquela situação toda. E tem [depoimentos de] pessoas na portaria que mostram quando existe essa situação de controle, de fiscalização de alguém que estava acima do Alejandro, o Alejandro se mostra muito estressado com isso. Ao mesmo tempo vários depoimentos demonstram que o PM tinha algum estresse”, afirmou outra advogada de Alejandro, Clotilde Castro.
Outro advogado, Yuri Dantas, disse que na ocasião do primeiro depoimento de Alejandro, no dia 30 de setembro, o cliente sequer sabia da morte de Flávio. O engenheiro foi levado da residência localizada no condomínio Passaredo, zona Oeste de Manaus, na noite do dia 29, e teve o corpo encontrado por desconhecidos na tarde do dia 30, em um terreno na mesma zona da cidade.
“[…] Enfim, o Alejandro nem sequer sabia que havia ocorrido a morte do Flávio, e ele nem foi perguntado sobre se ele reconhecia. Então quando a polícia fala que ele mentiu, a polícia carrega as palavras em desfavor de Alejandro”, declarou Yuri.
Trabalho de PMs também é criticado
O advogado Yuri Dantas também criticou o trabalho da equipe de policiais militares que atendeu a ocorrência no condomínio, após Elizeu e Mayc saírem do local levando Flávio.
“Para vocês terem uma ideia, existem depoimentos da Polícia Militar, que atendeu a ocorrência, e aí não isolam a casa, que efetivamente descartam a possibilidade, de ter havido um seqüestro. Presenciei o depoimento da policial que supervisionava a área naquele momento, que esteve na casa, quando ela disse: ‘Eles falaram que alguém tinha sido levado, mas eles estavam tão altos, que a gente não acreditou’. E por isso nem sequer houve o isolamento da casa. Depois ela fala: ‘Ah, eu pedi para o síndico isolar’. Isso não é conduta da polícia [para] pedir para o síndico isolar”, disse Yuri.
Torcida do Flamengo
Mas adiante, na coletiva, os advogados brincaram sobre a falta de isolamento da casa, que acabou prejudicando o trabalho da PC-AM. “A torcida do Flamengo entrou na casa”, disse Choy. “Eu sou da torcida do Flamengo, mas não entrei”, complementou Yuri.
Alejandro segue preso
Alejandro está preso temporariamente. Indiciado, a polícia pediu que a prisão temporária seja convertida em preventiva. A defesa entrou com um pedido na Justiça para que o processo deixe de tramitar em segredo.
Segundo Yuri, desde o início da investigação, há vazamentos seletivos de informações à imprensa, por parte da polícia, que têm contribuído para o julgamento público a que o cliente está sendo submetido.
Junto com o pedido de levantamento do sigilo do processo, a defesa pediu ainda a revogação da prisão do cliente.
No relatório enviado ao MP-AM, que decidirá se denuncia ou não os investigados, a PC-AM conclui que os responsáveis direto pelo crime foram Elizeu e Mayc.
O relatório não aponta Alejandro como autor dos ferimentos que resultaram na morte do engenheiro.
“A Polícia depois de muitas insinuações parece que chegou à conclusão verdadeira, porque ela disse taxativamente que com relação à morte do Sr. Flávio, o Alejandro não fez absolutamente nada. A própria polícia chegou à conclusão de que o Alejandro não fez nada no que diz respeito à morte do Flávio”, disse Valois.
Leia mais detalhes sobre os cinco indiciados no caso aqui.
Outro lado
O Estado Político pediu nota da PC-AM sobre as afirmações dos advogados. A matéria será atualizada se houver resposta.
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