A primeira sessão do Plenário da Câmara dos Deputados desta quarta-feira (30), encerrada há pouco, foi dominada por discursos sobre a divulgação de um depoimento que menciona o nome do presidente da República, Jair Bolsonaro, no caso Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018.
A TV Globo divulgou que o porteiro do condomínio em que mora Jair Bolsonaro – então deputado federal – contou à polícia que, horas antes do assassinato, o suspeito do crime teria ido ao condomínio e dito que iria à casa de Bolsonaro. A entrada teria sido liberada por alguém na casa dele, a de número 58. Ele depois se dirigiu à casa do outro suspeito, 65.
A notícia foi rebatida por Jair Bolsonaro em transmissão via internet, e pelo filho do presidente – o vereador Carlos Bolsonaro. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu instauração de inquérito para investigar o depoimento do porteiro.
Na Câmara, a oposição cobrou explicações e criticou o presidente da República. Outros deputados saíram em defesa do presidente e condenaram a divulgação do depoimento – já que há provas de que Bolsonaro estava em Brasília no dia do crime.
O deputado Jorge Solla (PT-BA) disse que o depoimento comprova “afinidades” do presidente da República com milícias. Ele aproveitou para criticar a proposta que torna menos rigorosas as regras para porte e posse de armas de fogo (PL 3723/19).
“O presidente Bolsonaro teve financiamento da sua campanha eleitoral, boa parte dela, por indústrias de arma. Ele tem relações com a milícia no estado do Rio de Janeiro. Ontem foi comprovado que o matador de Marielle visitou o condomínio e informou na portaria que iria à casa do Jair”, afirmou Solla.
O deputado Valmir Assunção (PT-BA) criticou a transmissão ao vivo de Bolsonaro, que rebateu a notícia, criticou a Rede Globo e acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de ser o autor da denúncia. “Ontem, assistindo a um vídeo no Facebook do Jair Bolsonaro falando, vi que ele está muito nervoso. Quem não deve não treme. Essa é a máxima”, disse.
Líder do Solidariedade, o deputado Augusto Coutinho (PE) disse que a notícia é “inadequada” e cria uma “discussão injusta” na opinião pública.
“Há pouco, ouvimos aqui um deputado do PT dizer que o presidente tinha recebido, na sua casa, uma pessoa que foi o responsável ou o acusado por matar a vereadora Marielle. Isso é de uma enorme irresponsabilidade, isso não é uma coisa correta. Nós devemos ter correção quando colocamos e elevamos o questionamento sobre uma pessoa”, disse Coutinho.
O deputado Pastor Eurico (Patriota-PE) afirmou que a notícia é “irresponsável” e tem o objetivo de atingir a imagem de Bolsonaro. “Estão querendo macular [a imagem do presidente], falando e afirmando que o presidente tem participação junto àqueles que assassinaram Marielle”, criticou.
Votações de hoje
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que as votações de hoje não serão contaminadas pela divulgação do depoimento.“Não é papel da Câmara analisar esse tipo de fato, precisamos manter as matérias da Câmara. O nosso objetivo é votar as matérias que podem reorganizar o Estado brasileiro”, disse.
Maia afirmou que a intenção é votar nesta quarta a proposta que torna menos rigorosas as regras para porte e posse de armas de fogo (PL 3723/19). O tema foi discutido ontem.