MANAUS – O suposto esquema criminoso que desviou mais de R$ 100 milhões em recursos públicos do município de Coari, no período de 18 meses, favorecia empresários apadrinhados do prefeito Adail Filho, preso nesta quinta-feira, 26, sob a acusação de ser o líder do grupo.
A informação foi divulgada pela procuradora-geral de Justiça, Leda Mara de Albuquerque, em coletiva à imprensa sobre a operação “Patrinus”, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que prendeu Adail.
“Nós temos diversos empresários envolvidos em um esquema onde eles, enquanto empresas, eram favorecidos com apadrinhamento do Executivo, daí o nome da operação ser Patrinus”, disse Leda Mara.
O suposto esquema foi criado para fraudar licitações, lavar dinheiro e corromper a estrutura de poder do município.
“Esse trabalho foi iniciado na Comarca de Coari. A investigação começou há um ano e meio e de lá foi encaminhado para o Gaeco, que começou a constatar que algumas empresas, incluindo aquelas que participaram da campanha do prefeito, estavam sendo beneficiadas através de processos licitatórios. Há flagrantes desse favorecimento a essas empresas e daí nós termos focado nesse primeiro momento nesse tipo de prática ilegal”, explicou a procuradora.
Além do prefeito, foram presos Alexsuel Rodrigues, proprietário da rede de supermercados que leva seu sobrenome; o sargento da Polícia Militar Fernando Lima; e o vereador Keitton Pinheiro, presidente da Câmara Municipal de Coari e primo do prefeito.
Segundo Leda Mara, o próximo passo será a oitiva dos envolvidos na operação, incluindo as testemunhas.
Adail Filho vai cumprir prisão temporária no Batalhão de Choque da Polícia Militar do AM, localizado no km 14 da Rodovia AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara. Adail realizou exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e em seguida foi encaminhado para o batalhão.
Sobre a prisão de Keitton, a procuradoria da Câmara informou que só comentará a prisão do presidente da Câmara de Coari quando tiver acesso aos autos.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos outros dois presos.
Outro lado
Em nota distribuída à imprensa na manhã desta quinta-feira (26), a assessoria de imprensa da Prefeitura de Coari informa que o prefeito da cidade, Adail Filho, coopera e continuará cooperando com a investigação do Ministério Público Estadual (MP-AM), que apura desvio de recursos públicos no município.
No texto, a assessoria critica o pedido de prisão temporária contra o prefeito, que já foi autorizada pela Justiça. Segundo a nota, a prisão é desnecessária, uma vez que Adail sempre se colocou à disposição do MP-AM.
Denominada Patrinus, a operação foi deflagrada nesta quinta-feira. Além de Adail Filho, que ainda não foi localizado pela polícia, a ação teve como alvo a irmão do prefeito, deputado estadual Mayara Pinheiro (PP).
A parlamentar foi alvo de mandados de busca e apreensão. O advogado da deputada informou ao site que após o encerramento das diligências contra a cliente fará contato com a reportagem.
O presidente da Câmara de Coari, Keitton Pinheiro, que é primo do prefeito, foi preso na cidade. No total, a Justiça autorizo a prisão de quatro pessoas.
Abaixo, a nota da assessoria da Prefeitura de Coari
Nota a imprensa Sobre a operação Patrinus:
Informamos a imprensa e a toda a população amazonense que em momento algum a prefeitura de Coari e seus servidores se esquivará de prestar todas as informações necessárias as investigações. O prefeito Adail Filho considera as acusações graves e prestará todos os esclarecimentos desejados pela justiça, comprovando a seriedade de sua condição como administrador de uma cidade que já voltou a ser uma das mais desenvolvidas do Estado do Amazonas e que, em função disto, volta a ser alvo dos mais diversos interesses e acusações infundadas.
O prefeito tomou conhecimento de que estas investigações estavam ocorrendo há seis meses, como amplamente foi noticiada pela própria imprensa e desde lá tem se colocado a disposição para responder e atender qualquer pedido de informação, inclusive pessoalmente. Desta forma a medida de prisão temporária se mostra desnecessária, já que nunca se privou de prestar tanto ao MP, quanto aos órgãos de controle, as provas plenas de sua probidade diante da administração.
As acusações de favorecimento em licitações não tem qualquer sustentação fática, já que todos sabem que empresas de adversários de nosso grupo político também prestam serviço para a prefeitura por terem atendido aos requisitos licitatórios. Todos os documentos coletados (que, reforçando, já estavam a disposição) constatarão isso com muito facilidade.
O prefeito prontamente se colocará a disposição da justiça pois tem total interesse em esclarecer cada sombra de dúvida que nesse momento são postas sobre sua administração. Já sabia que se aproximando as eleições e com a aprovação da gestão, situações semelhantes poderiam acontecer. E por isso tem se dedicado em fazer uma administração séria e que claramente tem restaurada a dignidade de Coari.
Que respeita, obedece e confia muito no trabalho da justiça, comparando as acusações com todos os documentos e provas que estamos apresentando. Assim como também presta seu respeito na atuação do Ministério Público, que tem por obrigação exatamente questionar, ainda que os questionamentos não estejam em conformidade com os fatos.
Infelizmente não é possível esclarecer a sociedade todos os pontos investigados porque até o presente momento ainda não foi franqueado ao prefeito o acesso aos autos, dificultando ainda mais a devida resposta para a sociedade e para os veículos de comunicação que, com seriedade, buscam levar a sociedade os dois lados deste caso. Nossa assessoria de comunicação e toda a administração buscarão manter todos informados para que não restem dúvidas de cada passo para o restabelecimento da verdade.