MANAUS – O ex-secretário de Fazenda do Amazonas (Sefaz), Afonso Lobo, classificou, durante depoimento na Justiça Federal, na tarde desta quarta-feira (7), como “equívoco” a denúncia do MPF que o acusa de ter integrado uma organização criminosa que desviou recursos milionários da saúde no Amazonas, entre os anos de 2014 e 2016.
“Me considero inocente. Acho que isso daí foi um equívoco. Há um processo de criminalização de políticos e por consequência de agentes públicos. No depoimento que fui acusado de falso testemunho isso deve ter melindrado o MPF e a partir daí a minha vida foi virada do avesso”, disse Lobo durante depoimento.
Afonso é acusado pelo MPF de receber uma série de pagamentos relativos à propina, que totalizaram R$ 2,1 milhões. Uma das origens do dinheiro seria um contrato superfaturado do Instituto Novos Caminhos (INC) com empresa ligada ao ex-secretário.
Questionado sobre as vantagens ilícitas que é acusado de ter recebido, Lobo afirmou que o processo que presta depoimento nesta tarde o acusa somente de organização criminosa, e que vai responder sobre a situação na ação devida.
“Esse esclarecimento vamos prestar na ação própria. Essa ação aqui, segundo meus advogados, é somente sobre organização criminosa.
Ao ser questionado sobre como conheceu Mouhamad Moustafa, Lobo contou que foi por meio da Sefaz, no segundo semestre de 2014.
“Eu conheci o Mouhamad era secretário de Fazenda, era o responsável por pagar fornecedores. No segundo semestre de 2014 já vivíamos uma crise e ele começou a comparecer a secretaria para demandar pagamentos, salvo engano de três empresas. E ao longo do tempo, ele era uma pessoa gentil, acabamos fazendo uma amizade”, declarou o ex-secretário.
Apesar da relação, Lobo declarou que nunca deu tratamento diferenciado para Mouhamad. O empresário, porém, chegou a pedir, segundo Lobo, uma atenção da Sefaz com os pagamentos em atraso do Instituto Novos Caminhos (INC).
“Esse fato não reflete a realidade. Existem inúmeros atos praticados pela equipe econômica que desmentem isso”, disse.
Desde que foi alcançado pela investigação, em 2017, o ex-titular da Sefaz foi denunciado em quatro ações: uma por organização criminosa e as outras três por corrupção.
Encontros com Mouhamad
Afonso Lobo confirmou ter participado de três almoços com Mouhamad na casa do empresário, mas que segundo ele sempre foram para tratar de amenidades, nunca de trabalho.
“Ao longo de três anos, se encontrei muito foram três vezes. Numa delas foi quando o filho dele nasceu, foi um almoço na casa dele, fui com a minha esposa e o meu filhinho. Passado um tempo, ele nos convidou para um outro almoço, mas não se tratou de trabalho, só amenidades. Esses convites não impactaram em nada nas decisões técnicas da Sefaz”, declarou Lobo.
O ex-titular da Sefaz disse ainda que quando seu filho completou um ano de vida convidou Mouhamad para a festa de aniversário. Segundo ele, a comemoração não ocorreu em sua casa, mas numa casa de festas.
Interrogatórios
A Justiça Federal iniciou na terça-feira (6) uma série de audiências dos réus no processo da Maus Caminhos, alvos das fases denominadas Custo Político e Estado de Emergência.
Nesta quarta, além de Afonso Lobo, estão sendo ouvidos os ex-secretários Pedro Elias (Saúde), Wilson Alecrim (Saúde), Afonso Lobo (Fazenda), Raul Zaidan (Casa Civil) e o ex-governador José Melo.
A Maus Caminhos apura um esquema de corrupção que desviou pelo menos R$ 104 milhões do setor da saúde no Amazonas, entre 2014 e 2016.
Mouhamad é apontado como principal operador dos crimes, segundo a denúncia do MPF.