MANAUS – O ex-secretário estadual de Saúde do Amazonas, Pedro Elias de Souza, afirmou em depoimento nesta quarta-feira (7), na Justiça Federal, que pode ter “falhado” nas suas relações com Mouhamad Moustafa, mas não integrou a organização criminosa que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), desviou milhões da saúde entre 2014 e 2016.
“Se alguém se aproximou de mim para se aproveitar, não foi com minha anuência. Posso ter falhado, mas não me sinto pertencente a nenhuma organização criminosa”, disse Pedro Elias. O ex-titular da Susam prestou depoimento por 1 hora e 37 minutos. Ele foi secretário de saúde entre 2015 e 2017.
Pedro Elias disse que tem um padrão de vida simples, o que não sustenta a acusação de que ele recebeu R$ 1,6 milhão em propina de Mouhamad. O ex-secretário confirmou ter amizade com o empresário, ao ponto de frequentar a casa, mas nada que ultrapassasse os limites de uma “relação republicana”.
Em 1h e 20 minutos de depoimento, Pedro Elias disse que a viagem em avião de Mouhamad, empresário com contratos na Secretaria de Estado de Saúde (Susam), não foi programada, e que não viu nada de irregular na conduta.
Segundo o ex-secretário, por acaso, o empresário estava em Porto Velho, cidade onde ele, Pedro Elias, passava o Dia dos Pais com o pai.
Ao saber que o então titular da Susam estava na mesma cidade, Mouhamad o visitou. Na ocasião, o empresário ofereceu carona no avião para voltar ao Amazonas. Pedro Elias disse que acabou aceitando, por permitir que ele pudesse ficar mais tempo com o pai.
No depoimento, Pedro Elias declarou que além da carona no avião, recebeu do empresário dinheiro emprestado e favores, como um apartamento para que um dos filhos morasse em Brasília, cujo aluguel era pago por ele a Mouhamad. Mas nunca propina, como acusa o MPF.
Na época da ajuda com o apartamento, Pedro Elias ainda não era secretário.
Pedro Elias confirmou que se hospedou no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Disse que as despesas foram pagas pelo empresário, mas que ele o reembolsou.
Segundo o MPF, a estadia chegou a R$ 42 mil. Pedro Elias disse que não se recorda do valor.
O ex-secretário negou que tenha viajado novamente para o Rio de Janeiro, desta vez para passar o final do ano. Pedro Elias também negou ter se hospedado em São Paulo com despesas pagas por Mouhamad.
Pedro Elias admitiu que participou de encontros com Mouhamad e outros secretários, como Raul Zaidan (Casa Civil) e Afonso Lobo (Fazenda), mas que nunca foi para tratar de assuntos profissionais.
O ex-secretário disse que as fotos em que aparece em um desses encontros, em um restaurante, foram tiradas de forma dissimulada, sem sua anuência, e que não podem ser interpretadas como prova de uma relação ilegal com Mouhamd.
A Justiça Federal iniciou na terça-feira (6) uma série de audiências dos réus no processo da Maus Caminhos, alvos das fases denominadas Custo Político e Estado de Emergência.
Nesta quarta, além de Pedro Elias, serão ouvidos os ex-secretários Wilson Alecrim (Saúde), Raul Zaidan (Casa Civil) e Afonso Lobo (Fazenda), e o ex-governador José Melo.
A Maus Caminhos apura um esquema de corrupção que desviou pelo menos R$ 104 milhões do setor da saúde no Amazonas, entre 2014 e 2016.
Mouhamad é apontado como principal operador dos crimes, segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF).